terça-feira, janeiro 11, 2005

Visita

Adornou o meu quarto a flor do cardo,
Perfumei-o de almíscar rescendente;
Vesti-me com a púrpura fulgente,
Ensaiando meus cantos como um bardo.

Ungi as mãos e a face com o nardo
Crescido nos jardins do Oriente,
A receber com pompa, dignamente,
misteriosa visita a quem aguardo.

Mas que filha de reis, que anjo ou que fada
Era essa que assim a mim descia,
Do meu casebre à húmida pousada?

Nem princesas, nem fadas. Era, flor,
era a tua lembrança que batia
Às portas de ouro e luz do meu amor!


(Antero de Quental)

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