domingo, outubro 31, 2004

Agradecimento

Ao blog Portugalidades por ter destacado o Abrigo de Pastora: muito obrigada!

Fruta-pão


Paul Gauguin, "Ia haere ia oe?" ("Onde vais?"), 1893

Continuam os efeitos da revolta na Bounty



A história da "Revolta na 'Bounty'" é um poço de lições sobre a natureza humana e sobre a civilização. O artigo de hoje da revista Pública sobre Pitcairn ("A Ilha dos Crimes Sexuais") é mais uma sequela dessas lições.

sábado, outubro 30, 2004

Mais infinito

MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO M

AIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MA
IS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAI
S INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS
INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS
INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS I
NFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS IN
FINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INF
INITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFI
NITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFIN
ITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINI
TO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINIT
O MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO MAIS INFINITO

Z

Z

Z

Z

Z

Z


Z

Como não gostar?


(Jan Vermeer)

Como

preencher

o

espaço

para

que

duas

imagens

consecutivas

não

apareçam

simultaneamente

no

écrã

?

quinta-feira, outubro 28, 2004

A moleirinha

Ó que lindos olhos tem
Ai a filha da moleirinha.
Tão mal empregada ela
Andar ao pó da farinha!

Trigueirinha me chamaste
Ai eu de sangue não o sou.
Isto é de andar à farinha
Foi o sol que me crestou!

Trigueirinha me chamaste,
Ai por isso não me zanguei.
Trigueira é a pimenta
E vai à mesa do rei!

(popular)

Artur Portela

Quando vejo na televisão Artur Portela, não vejo uma "alta autoridade" (quem terá inventado esta expressão?). Vejo o autor das "Três Lágrimas Paralelas". Um livro extraordinário, que recomendo.

quarta-feira, outubro 27, 2004

Uma nova livraria

Sucedendo à apinhadíssima Bertrand que antes existia no piso zero do Centro Vasco da Gama, há agora, no 2º piso deste centro, uma nova Bertrand, espaçosa, bem guarnecida (como a anterior) e uma delícia para as crianças e para quem quer beber um café longe do reboliço desagradável daquele centro. Não contem a ninguém... É que a livraria é o único sítio que vale a pena ali (pelo menos no inverno, em que não se pode aproveitar as esplanadas). Ao sairem da livraria, e se estiver de chuva, pode ser ainda que vejam as gaivotas que se abrigam na cúpula.

Espera

Dei-te a solidão do dia inteiro.
Na praia deserta, brincando com a areia,
No silêncio que apenas quebrava a maré cheia
A gritar o seu eterno insulto,
Longamente esperei que o teu vulto
Rompesse o nevoeiro.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

terça-feira, outubro 26, 2004

Pedido de ajuda

Desta vez, talvez mais difícil. Procuro exemplos de "profundidade" na literatura escrita por mulheres (silly as it may seem...). Antecipadamente grata.

Is there anybody out there?


(Edvard Munch)

Inferno (IV)

"Considerai, finalmente, que o tormento dessa prisão infernal é acrescido pela companhia dos próprios condenados. Na terra, uma má companhia é tão nociva que as plantas, como que por instinto, se apartam de qualquer coisa que lhes seja mortal ou funesta. No Inferno, todas as leis estão dissolvidas, não há questões de família ou pátria, de alianças ou de parentesco. Os danados urram ou vociferam uns contra os outros, porque a sua tortura e a sua raiva aumentam em presença de seres torturados e enfurecidos como eles. Todo o sentimento de humanidade é esquecido. Os gritos de dor enchem os mais recuados cantos do vasto abismo. As bocas dos danados estão plenas de blasfémias contra Deus, de ódio contra os seus companheiros de sofrimento, de maldições contra aqueles que foram seus cúmplices no pecado. Outrora, para punir o parricídio, o homem que levantara a mão assassina contra seu pai era precipitado nas profundezas do mar dentro de um saco onde se encontravam um galo, um macaco e uma serpente. A intenção dos legisladores, que parece cruel na nossa época, era punir o criminoso com a companhia destes animais hostis e furiosos. Mas o que é a fúria destas bestas mudas, comparada com a fúria odiosa que rompe dos lábios ressequidos, das gargantas inflamadas dos danados do Inferno, contemplando entre os seus companheiros de miséria aqueles mesmos que os ajudaram e incitaram no pecado, aqueles cujas palavras semearam no seu coração as primeiras sementes de maus pensamentos e más acções, aqueles cujas sugestões insensatas os conduziram ao pecado, aqueles cujos olhares os tentaram e desviaram do caminho da virtude? Voltam-se contra tais cúmplices com censuras e maldições. Mas não lhes resta nem socorro nem esperança: é demasiado tarde para o arrependimento.

"Finalmente, considerai a espantosa tortura que representa para estas almas danadas, as que corromperam e as que foram corrompidas, a companhia dos demónios. Estes demónios atormentam os danados de duas maneiras: com a sua presença e com as suas censuras. Santa Catarina de Siena viu uma vez um demónio e escreveu que preferia caminhar até ao fim da sua vida por um caminho de carvões em brasa do que voltar a ver um único instante tão horroroso monstro. Estes diabos, que foram outrora formosos anjos, tornaram-se tão repelentes e feios quanto antes tinham sido belos. Escarnecem e riem das almas perdidas que arrastaram para a ruína. São eles, estes diabos abjectos, que representam no Inferno a voz da consciência. Porque pecaste? Porque deste ouvidos aos propósitos tentadores dos amigos? Porque abandonaste as tuas práticas piedosas e as tuas boas acções? Porque não evitaste as ocasiões de pecado? Porque não deixaste aquele mau companheiro? Porque não renunciaste a tal hábito impudico, a tal hábito impuro? Porque não ouviste os conselhos do teu confessor? Porque, mesmo depois de teres pecado a primeira, a segunda, a terceira, a quarta ou a centésima vez, não te arrependeste da tua má conduta e não regressaste a Deus, que esperava apenas o teu arrependimento para te absolver? Agora o tempo do arrependimento já passou. O tempo é, o tempo foi, mas o tempo não existirá mais! Houve um tempo para pecar às escondidas, para te comprazeres na preguiça e no orgulho, para ambicionar o ilícito, para ceder às investigações da tua baixa natureza, para viver como as bestas dos campos, ou ainda pior do que as bestas, porque elas, ao menos, não passam de brutos que não possuem uma razão que os guie. O tempo foi, mas o tempo não existirá mais. Deus falou-te por intermédio de tantas vozes diversas, mas não quiseste ouvir. Não quiseste esmagar esse orgulho e esse rancor no teu coração, mas não quiseste restituir esse bem mal adquirido, não quiseste obedecer aos preceitos da tua Santa Igreja nem observar os teus deveres religiosos, não quiseste abandonar aqueles maus companheiros, não quiseste evitar aquelas perigosas tentações. Tal é a linguagem desses demoníacos carrascos, linguagem plena de sarcasmo e de reprovação. Sim, de reprovação! Porque mesmo eles, os próprios demónios, quando pecaram, cometeram o único pecado compatível com a sua angélica natureza: a rebelião do espírito; e mesmo eles, mesmo os diabos abjectos, têm de se afastar, revoltados e enojados com os espectáculos daqueles pecados inomináveis com os quais o homem caído ultraja e macula o templo do Espírito Santo, ultrajando-se e aviltando-se a si próprio."

(in "Retrato do Artista quando Jovem", James Joyce, Difel)

segunda-feira, outubro 25, 2004

Inferno de Dante, por Doré

Inferno - Doré
(Gustave Doré)

Inferno (III)

"Por outro lado, o nosso fogo terrestre, por mais furioso ou vasto que possa ser, é sempre uma extensão limitada; mas o lago de fogo do Inferno é ilimitado, não tendo margens nem fundo. E diz-se que o próprio Diabo, interrogado acerca deste ponto por um soldado, foi obrigado a confessar que uma montanha lançada no oceano ardente seria consumida num instante como um pedaço de cera. E esse fogo terrível não se contentará em atingir os corpos dos danados exteriormente, mas toda a alma perdida será ela mesmo um inferno, as chamas desencadeadas enraivecendo-se até às suas vísceras. Oh! Quão terrível é a sorte desses desgraçados! O sangue ferve e cachoa nas suas veias; o cérebro ferve no crânio; o coração no peito flameja e arde; as entranhas não passam de uma massa vermelha de polpa que se consome; os olhos delicados flamejam como globos em fusão.

"Todavia, tudo o que acabo de vos dizer referente à força, à qualidade e à extensão deste fogo não é nada quando comparado com a sua intensidade, intensidade que é justamente considerada como sendo o instrumento escolhido pela vontade divina para punição da alma e do corpo ao mesmo tempo. Trata-se de um fogo que procede directamente da ira de Deus, e que se manifesta não pela própria actividade, mas como um instrumento da vingança divina. Assim como as águas baptismais purificam a alma com o corpo, também o fogo da punição tortura o espírito com a carne. Todos os sentidos da carne são torturados e o mesmo sucede com todas as faculdades da alma: os olhos com as trevas absolutas e impenetráveis; o nariz com fétidos nauseantes; os ouvidos com berros, uivos e imprecações; o paladar com a matéria imunda, a lepra e a podridão, a imundície inominável e sufocante; o tacto com aguilhões e pregos em brasa e cruéis línguas de fogo. Assim, por meio dos vários tormentos dos sentidos, a alma imortal é eternamente torturada na sua essência mesma, no meio de léguas e léguas de ardentes fogos acesos nos abismos pela majestade ofendida de Deus Omnipotente, e soprados numa perene e sempre crescente fúria pelo sopro raivoso do Todo-Poderoso."

(in "Retrato do Artista quando Jovem", James Joyce, Difel)

Reencontro de Dante e Beatriz


(Iluminura da Escola Veneziana do séc. XIV. Libreria Marciana, Veneza. Fotografia de Erich Lessing.)

domingo, outubro 24, 2004

Inferno (II)

"O horror desta prisão estreita e sombria é aumentado pelo seu espantoso cheiro. Todas as imundícies do mundo, todos os monturos e escórias do mundo, dizem-nos, correrão para lá como uma vasta e fumegante cloaca, quando a terrível conflagração do último dia tiver purgado o mundo. Por outro lado, o enxofre que ali arde em tão prodigiosa quantidade enche todo o Inferno com o seu intolerável fedor; e os corpos dos danados, eles próprios, exalam um cheiro tão pestilencial que, como diz S. Boaventura, só um deles bastaria para infectar o mundo inteiro. O próprio ar deste mundo, esse elemento puro, torna-se fétido e irrespirável, quando fica fechado muito tempo. Considerai, então, como deve ser fétido o ar do Inferno. Imaginai um cadáver imundo e pútrido, apodrecido, decomposto no fundo de uma sepultura, uma matéria gelatinosa de corrupção liquificada. Imaginai tal carácter presa das chamas, devorado pelo fogo do enxofre ardente, emitindo os densos e horrendos fumos da decomposição repugnante e nauseabunda. E a seguir imaginai esse fedor malsão multiplicado milhões e milhões de vezes pelo número de milhões e milhões de carcaças fétidas comprimidas nas trevas fumarentas, esta enorme fogueira de podridão humana. Imaginai tudo isso, e tereis uma ideia do horrível cheiro do Inferno.

"Mas esse fedor, por mais horrível que seja, não é o maior tormento físico que sofrem os danados. O tormento do fogo é o maior que um tirano jamais infligiu aos seus semelhantes. Colocai por um momento o vosso dedo na chama de uma vela e sentireis a dor causada pelo fogo. Mas o nosso fogo terreno foi criado por Deus para benefício do homem, para manter nele a centelha da vida, para o ajudar nos trabalhos úteis, enquanto o fogo do Inferno é de uma outra qualidade: foi criado por Deus para torturar e castigar o pecador impenitente. Além disso, o nosso fogo terrestre consome mais ou menos rapidamente, conforme o objecto atacado é mais ou menos combustível, a ponto de a ingenuidade humana ter mesmo inventado preparações químicas para impedir ou embaraçar a sua acção. Mas o sulfuroso breu que arde no Inferno é uma substância especialmente criada para arder eternamente com uma indizível fúria. Finalmente, o nosso fogo terrestre destrói à medida que arde, de modo que quanto mais intenso for mais curta será a sua duração; mas o fogo do Inferno possui a propriedade de conservar aquilo que queima e, embora se enfureça com uma incrível ferocidade, essa fúria não tem fim."

(in "Retrato do Artista quando Jovem", James Joyce, Difel)

Chuva

sábado, outubro 23, 2004

Inferno (I)

"- Tentemos agora, por um momento, compreender na medida do possível a natureza dessa morada dos danados que a justiça de um Deus ofendido criou para o castigo eterno dos pecadores. O Inferno é uma prisão estreita, sóbria e sórdida, um habitáculo de demónios e de almas perdidas, cheio de fogo e de fumo. A exiguidade dessa prisão é especialmente designada por Deus para punir aqueles que recusaram manter-se nos limites das Suas leis. Nas prisões terrenas o pobre cativo tem pelo menos uma certa liberdade de movimento, seja apenas entre as quatro paredes da sua cela ou no sinistro pátio da sua prisão. Não acontece assim no Inferno. Lá, devido ao grande número de danados, os prisioneiros estão empilhados uns sobre os outros na sua terrível prisão, cujas paredes, diz-se, têm quatro mil milhas de espessura; e os condenados estão tão completamente imobilizados, tão desamparados, que, como um bem-aventurado santo, Santo Anselmo, escreve no seu Livro das Similitudes, nem sequer têm a possibilidade de tirar do olho o verme que os atormente.

"Jazem nas trevas exteriores. Porque, lembrai-vos disto: as chamas do Inferno não emitem qualquer luz. Assim como, pela ordem de Deus, o fogo da fornalha de Babilónia perdeu o seu calor, mas não a sua luz, assim, pela ordem de Deus, o fogo do Inferno, conquanto retenha a intensidade do seu calor, arde eternamente nas trevas. É uma incessante tempestade de trevas, de negras chamas e de negra fumarada de enxofre a arder, no meio das quais os corpos estão amontoados uns sobre os outros, sem uma nesga de ar. De todas as pragas com que a terra dos faraós foi flagelada, uma só, a praga das trevas, foi classificada de horrível. Que qualificativo daremos então às trevas do Inferno, que hão-de durar não três dias apenas, mas toda a eternidade?"

(in "Retrato do Artista quando Jovem", James Joyce, Difel)

Fogo

sexta-feira, outubro 22, 2004

Rajada

"Trinta horas depois da morte do sargento Faustino Rivera, Irene foi baleada à porta da editora. Saía do trabalho, já tarde, quando um automóvel estacionado no passeio em frente pôs o motor em marcha, acelerou e passou a seu lado como um vento fatídico, disparando uma rajada de metralhadora antes de se perder no trânsito. Irene sentiu um golpe terrível no coração e não percebeu o que tinha acontecido. Desmaiou sem um grito. Toda a sua alma ficou como que vazia e a dor paralizou-a. Teve um instante de lucidez, durante o qual conseguiu sentir o sangue crescendo à sua volta, num charco incontrolável, e logo de seguida mergulhou no sono.

"O porteiro e outras testemunhas do facto também foram apanhados desprevenidos. Ouviram os disparos e não souberam identificá-los, pensaram numa explosão de motor ou na passagem de um avião, mas quando a viram cair correram para socorrê-la. Dez minutos mais tarde, Irene era levada numa ambulância com as sirenes ligadas e as luzes acesas. Tinha inúmeras perfurações de bala no ventre, por onde lhe fugia a vida aos borbotões."


(in "De Amor e de Sombra", Isabel Allende, Difel)

Singela homenagem



A todos os que lutaram pela liberdade.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Fascinação

"Nessa noite, à mesa, o professor estava em completa euforia. A presença de Irene Beltrán estimulava a sua eloquência. A jovem ouvia-o falar sobre a solidariedade com a fascinação de um menino perante um teatro de marionetas, porque aqueles discursos exaltados estavam muito distantes do seu mundo. Enquanto ele apostava nos melhores valores da humanidade, ignorando milhares de anos de história que demonstram o contrário, certo de que basta uma geração para criar uma consciência superior e uma sociedade melhor desde que se criem as condições indispensáveis, ela, extasiada, deixava esfriar a comida no prato."

(in "De Amor e de Sombra", Isabel Allende, Difel)

Alhambra


(M.C. Escher)

Xisto

O xisto perturba-me pela facilidade com que se desintegra nas minhas mãos. Bastam simples gestos distraídos para que pedras milenares se tornem lascas. É muito frágil, este nosso mundo. E o nosso poder de destruição é imenso.

Os políticos profissionais

Dou às vezes comigo a defender os partidos e os políticos, numa altura em que já nem estes o fazem abertamente. Por que é que o faço?

Sei, por experiência própria, quão difícil é conjugar esforços entre um grupo de pessoas, mesmo que com um ideário comum. Há sempre diferenças pessoais que, se não for feito nada, se transformam a prazo em desavenças e incompatibilidades, que inquinam os projectos colectivos. Para que as coisas funcionem, é precisa muita tolerância mútua e também lideranças conciliadoras e aglutinadoras, o que nem sempre é fácil de encontrar.

Ao contrário de muitos, não acredito que os políticos sejam uma corja de interesseiros, ou pelo menos, que sejam mais interesseiros do que são todos os que não são políticos. Por que haveriam de sê-lo?

Se é duvidoso que a única motivação que leva jovens a inscreverem-se em juventudes partidárias seja uma motivação altruísta, mesmo assim acredito que muitos dos que dedicam boa parte das suas vidas à actividade política o façam, pelo menos em princípio, por uma vontade de mudar o mundo para melhor.

Claro que mesmo os mais bem intencionados não são perfeitos nem imunes ao mundo que os rodeia. Por isso, os políticos sofrem dos males de que a sociedade também sofre. A diferença é que os defeitos dos políticos são ampliados, por serem figuras públicas. E isso acontece tanto mais quanto mais mediatizada é a sociedade, porque aos "media" interessam as audiências que os escândalos e os "fait-divers" lhes trazem, e interessa a descredibilização da classe política, com a consequente valorização do quarto poder, ainda maior por surgir como aparente novo moralizador da vida pública.

Vivemos numa democracia dominada pelos partidos políticos. Um domínio excessivo, infelizmente. Vimos que os referendos não são a solução para uma democracia mais participada. Bem pelo contrário: parece que quanto mais referendo se fizerem, mais baixa será a participação, quer nos referendos, quer nas eleições partidárias.

Penso que o problema do desinteresse da população pela política e, especialmente, pelas eleições, não será muito alterado pela introdução de círculos uninominais. Aliás, o momento da definição desses círculos dificilmente deixaria de ser o resultado de um jogo de interesses entre os partidos, e a fulanização e a inevitável demagogia que se seguiriam, tudo isso acabaria, mais cedo ou mais tarde, por desencantar ainda mais os eleitores.

Há um campo em que ainda há alguma coisa a fazer, mas que também não é nenhuma panaceia. Trata-se da facilitação da constituição e do funcionamento das associações. A burocracia podia ser diminuída, e o problema geral da falta de instalações e de espaço devia ser combatido.

Neste cenário de democracia decadente, em que é a economia que efectivamente domina o que muda no mundo, que faremos nós sem os nossos políticos, para dar aos cidadãos a pouca voz que ainda têm? Só temos que ter esperança que nas veias dos políticos não corra já "sangue de barata"...

La promenade


(Claude Monet)

quarta-feira, outubro 20, 2004

Um pequenino Aleph

Hoje, na Gulbenkian, um pequenino Aleph. Com Euclides, Euler, Irene Fonseca, Newton, Einstein, o Eng. Álvaro de Campos, Bertrand Russell, cones e esferas de gelados, espirais, números mágicos, árvores de natal e trabalho de recortes ("pior que a cocaína"), cubos n-dimensionais, um observatório astronómico democrático, equações diferenciais ou "sistemas dinâmicos", Abril, teatro, Quixote.

Ouvi, finalmente, uma razão para que o planeta Vénus tenha o nome que tem. Não sei se gostei...

Obrigada, Professor Paulo Almeida!

O triunfo da burocracia

Neste país em que se inventam cabalas de conveniência, alguém que teve responsabilidades resolveu dizer que o que correu mal no concurso de professores não foi culpa de políticos nem de informáticos, e que era suspeito que tenha havido tantos erros dos professores no preenchimento dos impressos de candidatura...

Quem sabe, então, se não se pode fazer uma revolução... pela via dos formulários!

terça-feira, outubro 19, 2004

Espíritos químicos (II)

Espíritos químicos (I)

A canção do bandido

Maria's Eyes

I never felt my heart until I looked into your eyes
I never dared to dream until I looked into your eyes
I never thought the joys of love could touch a gypsy like me
Once alone and so free, now my heart longs for you

I never felt the sun until I looked into your eyes
I thought the race was won and then I looked into your eyes
I never needed anyone to sing the songs that I sing
Now the words only ring if I sing them to you

My love is there in your eyes
My soul is bare in your eyes
If I could gaze in your eyes ever more
-it's the dream I live for-
You can open the door…

I led a life of crime and then I looked into your eyes
My heart became a prisoner when I looked into your eyes
I fell beneath your gaze and felt as though my lies had been seen
All my sins became clean
What a fool I have been

My love is there in your eyes
My soul is bare in your eyes
If I could gaze in your eyes ever more
-it's the dream I live for-
You can open the door to love


Música: Andrei Konchalovsky
Letra e interpretação original: Keith Carradine

Fonte: All the lyrics

domingo, outubro 17, 2004

Alternância democrática

Uma das indiscutíveis vantagens da democracia é a possibilidade - e até certo ponto, se tudo seguir o seu curso normal, a inevitabilidade - da alternância entre partidos e lideranças.

Um dos objectivos da limitação de mandatos através da lei é justamente evitar que os abusos de poder e as redes de influências se tornem rotineiros e que o exercício do poder não se torne, na prática, um impedimento para a alternância democrática.

Hoje, Alberto João Jardim parte para o oitavo mandato, não fechando a porta a uma próxima candidatura... Este estado de coisas interessa ao PSD?

Se os partidos já impuseram quotas para mulheres nas suas listas, quando haverá coragem para se imporem limitações de candidaturas consecutivas para cargos de âmbito regional?

sábado, outubro 16, 2004

Fogo


Cortesia Mayhem Photoblog

Tempo

Está frio neste abrigo.

Orion



Comecei por conhecer esta constelação no livro "Um Pouco Mais de Azul", de Hubert Reeves. Reconheci-a depois no céu, num dia especial. Mais recentemente, o Hubble revelou com nitidez que, no punhal do caçador, nascem estrelas a partir de poeira...

Quando olho para o céu e vejo as Três Marias do cinturão de Orion, lembro-me especialmente de uma história antiga que ouvi: a história de um casal separado por milhares de quilómetros (ela em Portugal, ele em Moçambique, se bem me lembro) que combinaram olhar para Orion todos os dias a uma mesma hora, e pensarem, nesse instante, um no outro.

As estrelas, verdadeiras anciãs, são testemunhas dos nossos pequenos (grandes) nadas...

sexta-feira, outubro 15, 2004

A Charm Invests A Face

A charm invests a face
Imperfectly beheld.
The lady dare not lift her veil
For fear it be dispelled.

But peers beyond her mesh,
And wishes, and denies,
'Lest interview annul a want
That image satisfies.


(Emily Dickinson)

quinta-feira, outubro 14, 2004

Aldeias de xisto

Pedido de ajuda

Procuro o título de um livro de Ilse Losa. É a história, na primeira "pessoa", de um cão (seria Faísca?) que vivia no campo e tinha um dono menino: o Manuel. Era então um cão livre e feliz.

Depois, a família do Manuel teve dificuldades financeiras e resolveu vender o cão a uma menina da cidade. Na cidade, o herói canino era muito bem tratado, mas não podia correr, porque quando o levavam a passear prendiam-no sempre por uma trela.

Em suma, é uma extraordinária e comovente alegoria sobre a liberdade. Conheci-a porque uma professora de Português de uma escola preparatória usava os últimos dez minutos de cada aula para deixar os alunos de olhos marejados de lágrimas e com o veneno da Literatura no sangue.

Quem conhece este livro?

terça-feira, outubro 12, 2004

Christopher Reeve (1952-2004)



Morreu um ícone. Vou lembrar-me dele em "Deathtrap", de Sidney Lumet. Há dez anos, um cavalo estúpido impediu que moças de vista fraca pudessem voltar a ser salvas pelos seus braços. Continuou, com a super-dignidade de quem não se rende à tragédia. Terminou agora o seu e o nosso sofrimento.

A sabedoria popular

"Quem espera sempre alcança"

mas

"quem espera... desespera"

e, no entanto,

"enquanto há vida, há esperança".

É assim a sabedoria do povo: contraditória. Como qualquer ser humano.

Cicuta


Fonte: Jardim botânico da Fac. Farmácia da U. Lille

domingo, outubro 10, 2004

Ácidos e óxidos

É uma coisa estranha este verão
E no entanto ia jurar que estive aqui
Não me dói nada, não. A tia como está?
Claro que vale a pena, por que não?
Sim, sou eu, devo sem dúvida ser eu
Podem contar comigo, eu tenho uma doutrina
Não é bonito o mar, as ondas, tudo isto?
Até já soube formas de o dizer de outra maneira
Há coisas importantes, umas mais que as outras
Basta limpar os pés alheios à entrada
e só mandarmos nós neste templo de nada
E o orgulho é a nossa verdadeira casa
Nesta altura do ano quando o vento sopra
sobre os nossos dias, sabes quem gostava de ser?
Não, cargos ou honras, não. Um simples gato ao sol,
talvez uma maneira ou um sentido para as coisas

Ó dias encobertos de verão no meu país perdido
mais certos do que o sol consumido nos charcos no inverno,
estas ou outras formas de morrermos dia a dia
como quem cumpre escrupulosamente o seu dia de trabalho
Não eras tu, nem isto, nem aqui. Mas está bem,
estou pelos ajustes porque sei que não há mais
Pode ser que me engane, pode ser que seja eu
e no entanto estou de pé, rebolo-me no sol,
sou filho desta terra e vou fazendo anos
pois não se pode estar sem fazer nada

Curriculum atestado testemunho opinião...
que importa, se o verão mesmo é uma certa estação?
Escolhe inscreve-te pertence, não concordas
que há cores mais bonitas do que outras?
Sou homem de palavra e hei-de cumprir tudo
hão-de encontrar coerência em cada gesto meu
Ser isto e não aquilo, amar perdidamente
alguém alguma coisa as cláusulas do pacto
Isto ou aquilo, ou ele ou eu, sem mais hesitações
Estar aqui no verão não é tomar uma atitude?
A mínima palavra não será como prestar
em certo tipo de papel qualquer declaração?
Há fórmulas, bem sei, e é preciso respeitá-las
como o gato que cumpre o seu devido sol
São horas, vamos lá, sorri, já as primeiras chuvas
levam ou lavam corpos caras
Sabemos que podemos bem contar contigo em tudo
Amanhã, neste lugar, sob este sol
e de aqui a um ano? Combinado
Não achas que a esplanada é uma pequena pátria
a que somos fiéis? Sentamo-nos aqui como quem nasce

Será verdade que não tens ninguém?
Onde é o teu refúgio, o sítio de silêncio
e sofrimento indivisível? É necessário
Vais assim. Falam de ti e ficas nas palavras
fixo, imóvel, dito para sempre, reduzido
a um número. Curriculum cadastro vizinhança
Acreditas no verão? Terás licença? Diz-me:
seria isto, nada mais que isto?
Tens um nome, bem sei. Se é ele que te reduz,
aí é o inferno e não achas saída
Precário, provisório é o teu nome
Lobos de sono atrás de ti nesses dez anos
que nunca conseguiste e muito menos hoje
Espingardas e uivos e regressos, um regaço
redondo - o único verdadeiro espaço, o
sabor de não estar só, natal antigo,
o sol de inverno sobre as águas, tudo novo,
a inspecção minuciosa de paúis, de cômoros, marachas
Viste noites e dias, estações, partidas
E tão terrível tudo, porque tudo
trazia no princípio o fim de tudo
A morte é a promessa: estar todo num lugar,
permanecer na transparência rápida do ser
E perguntar será para ti responder

Simples questão de tempo és e a certas circunstâncias de lugar
circunscreves o corpo. Sentas-te, levantas-te
e o sol bate por vezes nessa fronte aonde o pensamento
- que ao dominar-te deixa que domines - mora
Estás e nunca estás e o vento vem e vergas
e há também a chuva e por vezes molhas-te,
aceitas servidões quotidianas, vais de aqui para ali,
animas-te, esmoreces, há os outros, morres
Mas quando foi? Aonde te doía? Dividias-te
entre o fim do verão e a renda da casa
Que fica dos teus passos dados e perdidos?
Horário de trabalho, uma família, o telefone, a carta,
o riso que resulta de seres vítima de olhares
Que resto dás? Ou porventura deixas algum rasto?
E assim e assado sofro tanto tempo gasto

(Ruy Belo)

Um simples gato ao sol


Fonte: Webtruck

sábado, outubro 09, 2004

Le népenthès et la bonne ciguë

PIÈCES CONDAMNÉES TIRÉES DES "FLEURS DU MAL"

III
LE LÉTHÉ


Viens sur mon coeur, âme cruelle et sourde,
Tigre adoré, monstre aux airs indolents;
Je veux longtemps plonger mes doigts tremblants
Dans l'épaisseur de ta crinière lourde;

Dans tes jupons remplis de ton parfum
Ensevelir ma tête endolorie,
Et respirer, comme une fleur flétrie,
Le doux relent de mon amour défunt.

Je veux dormir! dormir plutôt que vivre!
Dans un sommeil aussi doux que la mort,
J'étalerai mes baisers sans remord
Sur ton beau corps poli comme le cuivre.

Pour engloutir mes sanglots apaisés
Rien ne me vaut l'abîme de ta couche;
L'oubli puissant habite sur ta bouche,
Et le Léthé coule dans tes baisers.

A mon destin, désormais mon délice,
J'obéirai comme un prédestiné;
Martyr docile, innocent condamné,
Dont la ferveur attise le supplice,

Je sucerai, pour noyer ma rancoeur,
Le népenthès et la bonne ciguë
Aux bouts charmants de cette gorge aiguë,
Qui n'a jamais emprisonné de coeur.

(Charles Baudelaire)

Literatura e Alephs



No tempo em que era muito ingénua, ou, pelo menos, muito mais ingénua do que agora, acreditava na superioridade da ficção sobre a realidade.

Por exemplo, como apreciar o melhor de um lugar desconhecido quando se tem apenas o olhar do turista? - pensava eu.

A "Fábula de Veneza", de Hugo Pratt, seria um exemplo perfeito para o meu ponto. Hugo Pratt investigou, viajou pelo mundo, mas Veneza era a sua cidade natal, e mostrou-a aos seus leitores com todos os seus segredos, os seus recantos, as suas personagens misteriosas.

Nesse livro, até a Lua em crescente é especial.

sexta-feira, outubro 08, 2004

O poder é perverso

"O professor afirmava que o poder é perverso e que quem o detinha era a escória da sociedade, porque na disputa social só triunfavam os mais violentos e sanguinários. Era necessário, por isso mesmo, combater qualquer forma de governo e deixar os homens livres num sistema igualitário."

(in "De Amor e de Sombra", Isabel Allende, Difel)

Queijos frescos


Imagem: Daggett's

Quando esta pastora está na cidade, faz queijos frescos com leite de vaca do dia comprado no supermercado. Usa coalho líquido comprado numa loja polivalente de província (na cidade também deve haver à venda, mas onde?). Ou, melhor ainda, "barbas" de cardos secas trazidas na bagagem. Aquece-se o leite, espera-se, e depois vai-se, com muita paciência, escorrendo a água que está a mais. Para substituir os quinchos, podem cortar-se garrafas de plástico de álcool etílico de farmácia.

Quando come queijo fresco, esta pastora quase é panteísta. (Pastora que se prezasse devia ser sempre panteísta, mas...) Fecha os olhos, e é feliz...

quarta-feira, outubro 06, 2004

Monarquia: por que não

Constituição de 4 de Abril de 1838

DONA MARIA, por graça de Deus, e pela Constituição da Monarquia, Rainha de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além Mar em África, Senhora da Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia, e da Índia, etc. Faço saber a todos os Meus Súbditos, que as Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes Decretaram e Eu Aceitei e Jurei a seguinte



CONSTITUIÇÃO POLÍTICA

DA

MONARQUIA PORTUGUESA


(...)

Artigo 3.º

A Religião do Estado é a Católica Apostólica Romana.

Artigo 4º

O Governo da Nação Portuguesa é Monárquico-hereditário e representativo.

Artigo 5º

A dinastia reinante é a da Sereníssima Casa de Bragança, continuada na Pessoa da Senhora Dona Maria II, actual Rainha dos Portugueses.


(...)

Artigo 34.º

Os poderes políticos são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Parágrafo 1º - O Poder Legislativo compete às Cortes com a Sanção do Rei.

Parágrafo 2º - O Executivo ao Rei, que o exerce pelos Ministros e Secretários de Estado.

(...)

Artigo 71.º

A nomeação dos Senadores e Deputados é feita por eleição directa.

Artigo 72.º

Têm direito de votar nestas eleições todos os cidadãos portugueses que estiverem no gozo dos seus direitos civis e políticos, que tiverem vinte e cinco anos de idade, e uma renda líquida anual de oitenta mil réis proveniente de bens de raiz, comércio, capitais, indústria ou emprego.

Parágrafo único - Por indústria se entende tanto a das artes liberais como a das fabris.

Artigo 73.º

São excluídos de votar:

I - Os menores de vinte e cinco anos: o que não compreende os Oficiais do Exército e Armada de vinte e um anos; os casados da mesma idade, e os Bacharéis formados, e Clérigos de Ordens Sacras;

II - Os Criados de servir: nos quais não se compreendem os guarda-livros e caixeiros que por seus ordenados tiverem a renda anual de oitenta mil réis, os criados da Casa Real que não forem de galão brando, e os Administradores de Fazenda rurais e Fábricas;

III - Os libertos;

IV - Os pronunciados pelo Júri;

V - Os falidos, enquanto não forem julgados de boa fé.

Artigo 74.º

São hábeis para ser eleitos Deputados todos os que podem votar, e tiverem de renda anual quatrocentos mil réis, provenientes das mesmas fontes declaradas no Artigo 72.º.

(...)

Artigo 77.º

Só podem ser Eleitos Senadores os que tiverem trinta e cinco anos de idade, e estiverem compreendidos em alguma das seguintes categorias:

I - Os proprietários que tiverem de renda anual dois contos de réis;

II - Os comerciantes e fabricantes, cujos lucros anuais forem avaliados em quatro contos de réis;

III - Os Arcebispos e Bispos com Diocese no Reino e Províncias Ultramarinas;

IV - Os Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça;

V - Os Lentes de Prima da Universidade de Coimbra, o Lente mais antigo da Escola Politécnica de Lisboa, e o da Academia Politécnica do Porto;

VI - Os Marechais do Exército, Tenentes-Generais e Marechais de Campo;

VII - Os Almirantes, Vice-Almirantes e Chefes de Esquadra;

VIII - Os Embaixadores e os Enviados Extraordinários Ministros Plenipotenciários, com cinco anos de exercício na carreira diplomática.

Artigo 78.º

Os elegíveis para Senadores podem ser Eleitos por qualquer Círculo Eleitoral, posto que nele não residam nem tenham naturalidade.

(...)

Artigo 85.º

A pessoa do Rei é inviolável e sagrada; e não está sujeita a responsabilidade alguma.

(...)

Artigo 99.º

Se a sucessão da Coroa recair em fêmea, não poderá esta casar senão com Português, precedendo aprovação das Cortes. (...)

(...)

Artigo 109.º

Nem a Regência nem o Regente são responsáveis.

(...)

Paço das Cortes, em quatro de Abril de mil oitocentos trinta e oito. - MARIA SEGUNDA, RAINHA com guarda.

(...)

(in "As Constituições Portuguesas", Jorge Miranda, Livraria Petrony, Lisboa, 1976)

terça-feira, outubro 05, 2004

5 de Outubro

Viva a República!

Pedido de ajuda

Esta pastora está perdida no mundo dos templates. Depois de ter, inadvertidamente, estragado o que cá estava, voltou a pôr o inicial, que funciona em outras paragens, mas que aqui deixa o conteúdo da coluna da direita lá em baixo...

Alguém pode dar uma luz sobre o que se passa?

«Solução informática está errada»

"O «algoritmo milagroso» desenvolvido pela empresa ATX Software, que permitiu finalmente colocar os professores, está «errado» e «poderá afectar todo o concurso nacional», denuncia a Federação Nacional de Professores, preocupada com os erros que poderão surgir nas listas do próximo ano."
[Notícia completa no Diário de Notícias de hoje]

Como poderão os professores não colocados ou prejudicados na sua colocação provar em tribunal que foram prejudicados?

Como é possível ignorar a falta de informação técnica do legislador - que estava obrigado a obtê-la?

De que serve uma lei que não pode ser aplicada?

domingo, outubro 03, 2004

O poder crescente dos psicólogos

Peritos divididos sobre adopção homossexual

O tema da adopção de crianças por casais homossexuais está de novo a ser debatido em Espanha, depois de ter sido aprovado um projecto de lei que permite não só o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo mas também o direito de adopção. Dois estudos de 2002, um da Academia Americana de Pediatria e outro do Colégio Oficial de Psicólogos de Madrid pronunciaram-se a favor. Mas, mesmo assim, há pediatras que se opõem à aprovação desta medida.

«O importante de um lugar não é a sua forma exterior, se está construído em pedra ou em madeira. O mais importante, realmente, é que sirva para as funções de protecção que deve exercer», conclui o estudo do Colégio de Psicólogos. Neste, os peritos analisaram as dinâmicas familiares de 28 famílias «homoparentais» e encontraram «níveis elevados de afecto e comunicação e níveis geralmente baixos de conflito».

As vozes contra não põem em causa o amor e carinho com que os homossexuais podem educar uma criança. Mas defendem: «Para a identificação e maturação da sua personalidade precisam de um modelo feminino e masculino, diferenciado anatómica e psiquicamente.»


[Diário de Notícias de hoje]

Agora as vozes contra são anónimas, mas citadas... Que credibilidade podem ter em comparação com a dos outros "peritos"? Ah, estes jornalistas...

Algures em Lisboa


sábado, outubro 02, 2004

¿Quién muere?

Muere lentamente
quien se transforma en esclavo del hábito,
repitiendo todos los días los mismos trayectos,
quien no cambia de marca.
No arriesga vestir un color nuevo y no le habla a quien no conoce.
Muere lentamente
quien hace de la televisión su gurú.
Muere lentamente
quien evita una pasión,
quien prefiere el negro sobre blanco
y los puntos sobre las "íes" a un remolino de emociones,
justamente las que rescatan el brillo de los ojos,
sonrisas de los bostezos,
corazones a los tropiezos y sentimientos.
Muere lentamente
quien no voltea la mesa cuando está infeliz en el trabajo,
quien no arriesga lo cierto por lo incierto para ir detrás de un sueño,
quien no se permite por lo menos una vez en la vida,
huir de los consejos sensatos.
Muere lentamente
quien no viaja,
quien no lee,
quien no oye música,
quien no encuentra gracia en si mismo.
Muere lentamente
quien destruye su amor propio,
quien no se deja ayudar.
Muere lentamente,
quien pasa los días quejándose de su mala suerte
o de la lluvia incesante.
Muere lentamente,
quien abandona un proyecto antes de iniciarlo,
no preguntando de un asunto que desconoce o
no respondiendo cuando le indagan sobre algo que sabe.

Evitemos la muerte en suaves cuotas,
recordando siempre que estar vivo exige un esfuerzo mucho mayor
que el simple hecho de respirar.
Solamente la ardiente paciencia hará que conquistemos
una espléndida felicidad.


(Pablo Neruda)

sexta-feira, outubro 01, 2004

Malvas


Ovo de Colombo?

Depois de as listas de colocação dos professores terem saído, vi na televisão um senhor a explicar o algoritmo que tinha sido usado. Achei um pouco confuso e procurei essa informação em jornais e nos sites dos ministérios e dos sindicatos de professores, mas não encontrei.

Se era um problema complexo, como é que esse senhor resolveu tudo de forma simples, sabendo que ia ter que passar por cima da lei e gerar imensas injustiças, com consequentes reclamações inúteis?

Brinca-se com a vida de milhares de pessoas de uma forma incrivelmente ligeira, não é?