Quando o planeta que distingue a hora
faz pra viver co Touro o seu retorno,
cai virtude da chama a cada corno
que o mundo em nova cor então decora;
e não só o que se abre a nós de fora,
e em rio e monte põe florido adorno,
mas por dentro, onde o dia é sem contorno,
o humor terrestre prenho dele mora,
onde tal fruto e outros mais se colha.
E aquela entre as mulheres que é sol, em mim,
movendo os belos raios do olhar gera
pensar, falar e agir de amor, e enfim
por mais que ela governe, queira, escolha,
para mim nunca chega a primavera.
Nota: Este soneto teria acompanhado um presente de frutos. Co touro, em meados de Abril; mas por dentro, no subsolo.
(in "Rimas", Petrarca, tradução de Vasco Graça Moura, Círculo de Leitores)
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