sábado, abril 29, 2017

Alguma areia para as engrenagens

"[A] liquidez dos activos financeiros torna-os potencialmente negativos para o resto da economia. Construir uma fábrica demora pelo menos alguns meses, senão mesmo anos, enquanto para acumular os conhecimentos práticos tecnológicos e organizacionais necessários para formar uma empresa de nível mundial são necessárias décadas. Pelo contrário, os activos financeiros podem ser transferidos e reorganizados em minutos, senão mesmo segundos. Esta enorme diferença cria problemas muito importantes, porque o capital financeiro é «impaciente» e procura obter ganhos de curto prazo [...]. No curto prazo, esta tendência cria instabilidade económica, pois o capital líquido espalha-se por todo o mundo quase sem aviso prévio e de formas «irracionais», como temos visto recentemente. Mais importante é o facto de, no longo prazo, gerar um fraco crescimento da produtividade, porque o investimento de longo prazo é cortado para satisfazer o capital impaciente. Em resultado disto, apesar do grande progresso no «aprofundamento financeiro» (ou seja, o aumento no rácio entre os activos financeiros e o PIB), o crescimento tem, na verdade, desacelerado nos últimos anos [...].

Assim, precisamente porque é eficiente a responder a novas oportunidades de lucro, o mundo financeiro pode tornar-se prejudicial para o resto da economia. E foi por isso que James Tobin, laureado com o Prémio [Nobel] da Economia em 1981, falou na necessidade de «atirar alguma areia para as engrenagens dos nossos excessivamente eficientes mercados monetários internacionais». Assim, ele propôs um imposto sobre as transacções financeiras, com o objectivo deliberado de reduzir a velocidade dos fluxos financeiros. Até há pouco tempo tema tabu nos círculos educados, o chamado imposto Tobin foi recentemente defendido por Gordon Brown, primeiro-ministro britânico. Todavia, o imposto Tobin não é a única forma de reduzir a diferença de velocidade entre o mundo financeiro e a economia real. Entre outras alternativas, há a possibilidade de dificultar as aquisições hostis (reduzindo, por conseguinte, os ganhos dos investimentos especulativos em acções), proibir a venda curta (a prática de vender acções que não se possui no momento da venda), aumentar os requisitos de margem (ou seja, a percentagem que tem de ser paga à cabeça quando se compram acções) ou a criação de restrições aos movimentos transfronteiriços de capital, especialmente para países em desenvolvimento."

 ("23 coisas que nunca lhe contam sobre a Economia", Ha-Joon Chang)

sexta-feira, abril 28, 2017

Coisa 18 [Regulação]

"Karl Marx descreveu a restrição da liberdade empresarial por parte do Estado, em nome do interesse colectivo da classe capitalista, como a actuação do "comité executivo da burguesia". Todavia, não é necessário ser-se marxista para perceber que as leis que restringem a actuação individual das empresas podem promover o interesse colectivo da totalidade do sector empresarial, já para não falar da nação como um todo. Por outras palavras, muitas leis são favoráveis - não prejudiciais - aos negócios. Boa parte delas ajuda a preservar o conjunto comum de recursos que todas as empresas partilham, enquanto outras contribuem positivamente para os negócios levando as empresas a fazer coisas que aumentam a produtividade colectiva no longo prazo. Apenas quando reconhecermos isto seremos capazes de entender que o que interessa não é a quantidade absoluta de leis, mas os objectivos e os conteúdos das mesmas."

("23 coisas que nunca lhe contam sobre a Economia", Ha-Joon Chang)

Planear para cem anos

"Se planeias para um ano, planta arroz. Se planeias para dez anos, planta árvores. Se planeias para cem anos, educa a humanidade."

(Kuan-Tzu)

terça-feira, abril 25, 2017

25 de Abril sempre!


Em dias em que administradores da CGD não percebem o que é serviço público (mas percebem de salários principescos e uma muito considerável "melhoria do CV"), em que funcionários dos serviços de saúde não estão devidamente vacinados, em que os falsos recibos verdes são uma realidade para ficar (que nos torna motivo de chacota de colegas e amigos estrangeiros). Dia de homenagem a Sá Carneiro, fundador de um partido que é tudo menos social-democrata (mente logo a começar no nome). O povo está a dormir em 2017.

sábado, abril 22, 2017

Sourate 1: AL-FATIHA

(PROLOGUE ou OUVERTURE)

1. Au nom d'Allah, le Tout Miséricordieux, le Très Miséricordieux. 2. Louange à Allah, Seigneur des mondes. 3. Le Tout Miséricordieux, le Très Miséricordieux, 4. Maître du Jour de la Rétribution. 5. C'est Toi [Seul] que nos adorons, et c'est Toi [Seul] dont nous implorons l'aide. 6. Guide-nous dans le droit chemin (l'Islam), 7. Le chemin de ceux que Tu as comblés de Tes faveurs, non pas de ceux qui ont encouru Ta colère, ni des égarés (la mécreance).


(Le Noble Coran)

Listas

O conjunto de todas as listas de livros recomendados do Plano Nacional de Leitura de 2016 tem 846 páginas. No entanto, não se encontra lá nem a Bíblia, nem o Corão, nem "O Capital". Já Isabel Alçada aparece em 48 entradas, enquanto José Saramago tem direito a 13 entradas. Pobres alunos pobres, que assim vão continuar.

De facto, este plano tem um conjunto de problemas: aqueles autocolantes redondos estragam os livros (sic!); livros que consideramos clássicos não foram incluídos nestas listas; autores menores, contemporâneos nacionais foram incluídos de uma forma aparentemente arbitrária (ou pior?); e a inclusão de Isabel Alçada, ex-coordenadora do plano (de cujos livros, aliás, fui grande leitora quando era pequena).

É de saudar a intenção de aumentar a literacia científica e o contacto com as artes pelos jovens e, indiretamente, da população portuguesa. Vamos ver o que vai ser feito.

Uma vergonha para o Público

Vem hoje escrito no Público: "A bioquímica fará o seu trabalho, é certo, mas a crença tornará esse efeito eficaz! A eficácia depende da mão humana, nunca do método científico." A frase é de Rui Devesa Ramos, que se apresenta como doutor em Psicologia Clínica e Psicobiologia.

Um jornal que publica isto não merece 1,70 euros meus.

sexta-feira, abril 21, 2017

As séries de Piketty




 As séries de Piketty são sempre interessantes. No entanto, o seu livro "O Capital no Século XXI", apesar de ser importante, factual e simples de ler, dificilmente pertencerá ao "Plano Nacional de Leitura". É pena.

quinta-feira, abril 20, 2017

O que somos?

O que mais nos define: aquilo de que gostamos ou o que sabemos fazer? O Facebook define-nos pelos gostos e preferências, enquanto o Linkedin quer saber as nossas "competências" com interesse para supostos potenciais empregadores. Na primeira linha: Benfica ou Sporting? IOS ou Android? Série "pacote" A ou B? Temporada N ou M? Na segunda: tocar guitarra e cantar latim? Bolos ou bonecas de pano? Trocar lâmpadas? Vender? ("Ulisses rei da Ítaca carpinteirou seu barco/E gabava-se também de saber conduzir/Num campo a direito o sulco do arado").

Ora, Homero, se é que existiu, sabia escrever e gostava de contar histórias. Este exemplo sugere que, para o máximo sucesso e uma marca mais duradoura, deveríamos gostar da atividade que fazemos, que idealmente é uma que sabemos fazer bem. Mas a realidade é outra. "É a economia, estúpidos", diriam alguns. A maioria da humanidade trabalha muitas horas por dia por um salário baixo, sempre sentados ("the new smoking") ou sempre em pé (a ganhar varizes), num trabalho de que não gosta. Nas sociedades anteriormente desenvolvidas, longos períodos de desemprego, sem proteção social, são cada vez mais a norma.

Na sociedade ocidental, nos tempos recentes, uma classe média que aumentou antes de se dissipar, foram inventadas as férias e os passatempos, e as reformas pagas. (As crianças e os adolescentes só têm de ser estudantes.) Não serão escapes? Hoje, já não há dinheiro para luxos, é o tempo do marmitar como moda.

Sobre nós, as nuvens negras que são os nossos medos acompanham-nos ao longo da viagem. Se antes antecipávamos cogumelos nucleares, hoje imaginamos costas com o nível da água do mar cada vez mais elevado.

A amizade hoje é uma caricatura no Facebook.

O que somos? Para onde vamos?

Para que serve um blog? (De novo.)

O twitter é mais rápido embora mais limitado. Depois, tudo vai desaparecer, como já aconteceu com as páginas pessoais do Geocities, do Terràvista, do Sapo, ou com os comentários do Haloscan). Por isso, para quê gastar o latim, a não ser que se tenha uma agenda política ou um negócio de artesanato? Todo o palavreado é sugado pelo buraco negro que é o tempo, com uma forma cada vez mais próxima da do esparguete.

Escrever para pensar melhor?

Gatinhos









Cuteness overload!!! (Obrigada ao Google por existir e me fazer regressar à infância, afinal um dos últimos bálsamos.)