quinta-feira, julho 13, 2006

Uma viagem providencial (XVI)

Ostras! Água potável!

A costa desenhava-se agora com nitidez. No dia 28, à tardinha, desembarcaram no promontório saibroso de uma ilha e, como a maré estava baixa, não tardaram a descobrir nos rochedos numerosas ostras. Um grupo enviado em missão de reconhecimento regressou eufórico: encontrara muitas ostras e água potável!

Acenderam uma fogueira, com o auxílio de uma pequena lente. Entre os objectos lançados no último momento para a chalupa, figuravam um isqueiro de pederneira e um pedaço de enxofre em bruto, os quais lhes permitiriam acender lume quando precisassem. Um dos homens fora também suficientemente previdente para levar uma pequena marmita de cobre, e assim, com uma mistura de ostras, pão e carne de porco, cozinharam um ensopado, do qual coube um bom meio litro a cada um. Depois de inúmeros esforços para arrancarem as ostras das rochas, chegaram à conclusão de que perderiam menos tempo se as abrissem no próprio local.

Mas como se lamentavam! Sofriam sobretudo de tonturas e vertigens, de grande fraqueza nas articulações e de espasmos dolorosos, embora nenhum apresentasse sintomas alarmantes. Caso singular: tinham sofrido os rigores do frio e da fome, mas a todos restava ainda certa reserva de vigor.

Mr. Bligh recomendou-lhes com insistência que não tocassem nas bagas nem nos frutos que porventura encontrassem. Parece porém que, mal se afastaram do seu campo visual, se lançaram como crianças sobre toda a espécie de frutos que abundavam na ilha e se empanzinaram. Alguns sentiram dores tão violentas que, apavorados, imaginaram ter ingerido frutos venenosos. Entreolhavam-se, com visível apreensão, perguntando a si mesmos se não iriam ser vítimas da sua imprudência. Felizmente, os frutos eram todos comestíveis.


Sir John Barrow, "Revolta na Bounty", tradução de Fernanda Pinto Rodrigues, Publicações Europa-América, 1972

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