Bligh volta a reduzir as rações
O mar acalmou-se, por sua vez, e a chalupa começou a meter menos água. O capitão Bligh aproveitou a acalmia para examinar o estado do pão e avaliar o que restava. Baseando-se nas rações dos dias anteriores, calculou ter ainda o suficiente para mais vinte e nove dias. Claro que possuía boas razões para crer que, nesse espaço de tempo, alcançariam Timor, mas não podia ter a certeza de nada, nem devia rejeitar, a priori, a hipótese de um desvio até Java. Decidiu, por isso, reduzir ainda mais as rações, para que a provisão de pão durasse seis semanas.
«Receei - explica - que esta decisão fosse mal acolhida e que me visse obrigado a apelar para toda a minha energia, a fim de a impor; na realidade, por muito pequena que fosse a quantidade que tencionasse subtrair a todos para nossa segurança futura, o meu gesto poderia ser interpretado como uma espécie de levantamento contra as suas vidas. Não ignorava que a paciência de alguns atingira o limite, e esperava que aceitassem muito mal a decisão.
«No entanto, quando lhes expliquei a necessidade de nos prevenirmos contra os atrasos que podiam ocasionar-nos os ventos contrários ou qualquer outro motivo, e lhes prometi aumentar as rações à medida que nos aproximássemos da meta, declararam-se unânimes e espontaneamente de acordo com a minha decisão.»
Ficou assente, portanto, que cada passageiro da chalupa continuaria a receber dezoito gramas de pão ao pequeno-almoço e ao almoço, mas que a ração do jantar seria suprimida. Esta nova redução permitiu alargar a duração daquele alimento a quarenta e três dias.
Sir John Barrow, "Revolta na Bounty", tradução de Fernanda Pinto Rodrigues, Publicações Europa-América, 1972
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