Gosto de conhecer peculiaridades linguísticas que revelem um entendimento da realidade muito diferente do meu. Por exemplo, nas línguas de Timor, há uma diferença entre "nós, contigo/convosco incluído(s)" e "nós, sem ti/vós incluído(s)". É como se houvesse uma necessidade diária de distinguir o universal do que é particular do grupo, sendo que este pode ser o clã, mas não só. Em populações pequenas e isoladas, a defesa das tradições e das memórias ancestrais parece vital para a manutenção de uma identidade comum. Tragicamente, parecem não ter entendido os perigos biológicos e culturais da consanguinidade e do isolamento.
Há também a diferenciação entre "irmão mais velho" e "irmão mais novo" (e o mesmo para as irmãs), que parece uma manifestação de respeito pelo tempo e pela experiência. Mas este respeito pode ser, muitas vezes, inimigo da democracia e do progresso.
Há, depois, a curiosa utilização da língua. Os líderes religiosos e políticos timorenses usam a palavra "povo" de uma forma sui generis, nunca se incluindo na abstracção. É como se esse "povo" fosse o "povinho" português, a quem, curiosamente, têm dito, nos últimos tempos, que não tem capacidade para a sua auto-determinação. E isso, a falta de orgulho e de esperança, a juntar à falta de bens e à falta de segurança, é muito triste.
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