sexta-feira, junho 02, 2006

Timor-Leste: história de um país sem partido único, mas quase

(...) Companheiros da Luta [timorenses na diáspora],

O divisionismo, incentivado pelos caminhos ideológicos diversos e/ou opostos, levou os timorenses a considerarem-se inimigos, actuando em defesa das suas políticas. Ainda hoje, alguns tentam justificar essas acções para minimizar as culpas ou para afirmar que são inocentes. Creio que, exclusivamente pelos superiores interesses do nosso Povo, devemos apenas lembrar os factos que assinalaram a nossa história, como exercício mental para daí extrair lições, com o propósito de não contribuir, agora e no futuro, para que se faça sofrer o nosso Povo.

Se a violência fora a escolha preferida pelos dirigentes timorenses, a existência de um braço armado na dependência de um Partido, constituiria sempre um factor de interposição na reconstrução de uma unidade sem reservas. Para além disto, o próprio desenvolvimento da Luta retirava os funcionários político-ideológicos das FALINTIL, fazendo-as assumir uma missão mais nobre - a defesa da Pátria! Foi esta a razão do apartidarismo das FALINTIL.

E se, como membro do CCF [Comité Central da FRETILIN], eu assumia até então a responsabilidade pela condução do processo, como Comandante das Falintil e no espírito da CNT [Convergência Nacionalista Timorense], eu pensava estar em condições políticas para não me subordinar a nenhum partido, respeitando-os a todos. Se aos partidos pertenceu a ideologia da libertação da Pátria, às Forças Armadas o papel de praticar essa ideologia na defesa da Pátria, para a sua libertação. Foi assim que nasceu a estrutura do CNRM [Conselho Nacional da Resistência Maubere], que concederia à CNT uma maior dimensão política. (...)

Kay Rala Xanana Gusmão
Cmdt. das FALINTIL
Quartel-General do Conselho Nacional da Resistência Maubere,
em 1 de Maio de 1992


in Xanana Gusmão, "Timor Leste - Um Povo, uma Pátria", Edições Colibri, 1994

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