Dou às vezes comigo a defender os partidos e os políticos, numa altura em que já nem estes o fazem abertamente. Por que é que o faço?
Sei, por experiência própria, quão difícil é conjugar esforços entre um grupo de pessoas, mesmo que com um ideário comum. Há sempre diferenças pessoais que, se não for feito nada, se transformam a prazo em desavenças e incompatibilidades, que inquinam os projectos colectivos. Para que as coisas funcionem, é precisa muita tolerância mútua e também lideranças conciliadoras e aglutinadoras, o que nem sempre é fácil de encontrar.
Ao contrário de muitos, não acredito que os políticos sejam uma corja de interesseiros, ou pelo menos, que sejam mais interesseiros do que são todos os que não são políticos. Por que haveriam de sê-lo?
Se é duvidoso que a única motivação que leva jovens a inscreverem-se em juventudes partidárias seja uma motivação altruísta, mesmo assim acredito que muitos dos que dedicam boa parte das suas vidas à actividade política o façam, pelo menos em princípio, por uma vontade de mudar o mundo para melhor.
Claro que mesmo os mais bem intencionados não são perfeitos nem imunes ao mundo que os rodeia. Por isso, os políticos sofrem dos males de que a sociedade também sofre. A diferença é que os defeitos dos políticos são ampliados, por serem figuras públicas. E isso acontece tanto mais quanto mais mediatizada é a sociedade, porque aos "media" interessam as audiências que os escândalos e os "fait-divers" lhes trazem, e interessa a descredibilização da classe política, com a consequente valorização do quarto poder, ainda maior por surgir como aparente novo moralizador da vida pública.
Vivemos numa democracia dominada pelos partidos políticos. Um domínio excessivo, infelizmente. Vimos que os referendos não são a solução para uma democracia mais participada. Bem pelo contrário: parece que quanto mais referendo se fizerem, mais baixa será a participação, quer nos referendos, quer nas eleições partidárias.
Penso que o problema do desinteresse da população pela política e, especialmente, pelas eleições, não será muito alterado pela introdução de círculos uninominais. Aliás, o momento da definição desses círculos dificilmente deixaria de ser o resultado de um jogo de interesses entre os partidos, e a fulanização e a inevitável demagogia que se seguiriam, tudo isso acabaria, mais cedo ou mais tarde, por desencantar ainda mais os eleitores.
Há um campo em que ainda há alguma coisa a fazer, mas que também não é nenhuma panaceia. Trata-se da facilitação da constituição e do funcionamento das associações. A burocracia podia ser diminuída, e o problema geral da falta de instalações e de espaço devia ser combatido.
Neste cenário de democracia decadente, em que é a economia que efectivamente domina o que muda no mundo, que faremos nós sem os nossos políticos, para dar aos cidadãos a pouca voz que ainda têm? Só temos que ter esperança que nas veias dos políticos não corra já "sangue de barata"...
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