sábado, fevereiro 05, 2005

Conversa de gin tónico

Caro JVC,

Obrigada pelo convite para o gin tónico!

O JVC concorda com o direito ao casamento de casais homossexuais, mas tem dúvidas sobre o direito à adopção por parte destes casais.

Sobre este assunto, sobre o qual também tenho dúvidas, chamou-me a atenção um artigo do Diário de Notícias de 3 de Outubro de 2004, a propósito da discussão sobre este tema que então ocorreu em Espanha (a catolicíssima Espanha), onde acabou por ser aprovado o direito à adopção por casais homossexuais. Nesse artigo é referido que
Dois estudos de 2002, um da Academia Americana de Pediatria e outro do Colégio Oficial de Psicólogos de Madrid pronunciaram-se a favor.
e ainda
«O importante de um lugar não é a sua forma exterior, se está construído em pedra ou em madeira. O mais importante, realmente, é que sirva para as funções de protecção que deve exercer», conclui o estudo do Colégio de Psicólogos. Neste, os peritos analisaram as dinâmicas familiares de 28 famílias «homoparentais» e encontraram «níveis elevados de afecto e comunicação e níveis geralmente baixos de conflito».

Há ainda outro argumento a favor do direito à adopção, mas é mais polémico: se a homossexualidade não é uma doença e também é dado aos pais o direito de educar os seus filhos na sua religião (e é assim que a religião se torna "hereditária"), porque não admitir que uma criança educada por pais homossexuais possa ter maior abertura para com a homossexualidade?

A mesma notícia refere ainda que
As vozes contra não põem em causa o amor e carinho com que os homossexuais podem educar uma criança. Mas defendem: «Para a identificação e maturação da sua personalidade precisam de um modelo feminino e masculino, diferenciado anatómica e psiquicamente.».
Mas é ao Estado que compete encontrar os modelos ideiais de pais (tipo Barbie e Ken?), ou este deve simplesmente dar o apoio necessário a pais solteiros, divorciados ou viúvos, ou aos que dele precisem? Note-se que o Estado já permite a adopção a pessoas "singulares", caso em que não estão presentes os tais modelos masculino e feminino, o que indica que este factor não foi considerado assim tão decisivo.

Em conclusão, neste momento sinto-me inclinada a pensar que os espanhóis fizeram uma escolha acertada.


Nota: o artigo do DN já tinha sido referido aqui no dia da sua publicação. Na altura chamou-me a atenção especialmente por entre os opositores da adopção não serem citados nomes ou instituições, ao contrário do que acontecia com as associações de psicólogos que se pronunciaram a favor da adopção.

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