sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Elderly power

Tinha pensado interrogar-me aqui sobre o que acontecerá quando o envelhecimento da população for tal que a maioria da população tenha mais de sessenta e cinco anos. Mas o processo já começou. É só uma questão de extrapolar as tendências actuais.

Quererão as pessoas com mais de sessenta e cinco anos e menos de setenta reformar-se o mais depressa possível? Deve haver os dois tipos de pessoas, os que sim e os que não, embora a reforma tenha surgido e sido conquistada como corolário de um percurso de trabalho não necessariamente gratificante e como um período de descanso e de disponibilidade para fazer o que antes não era possível: viajar, ler mais, fazer jardinajem, etc. De que forma poderão os partidos, na definição das suas políticas, ir ao encontro destes anseios?

Há ainda que ter em consideração que os mais idosos que se mantiverem activos vão ser menos produtivos, porque as suas capacidades físicas e intelectuais vão diminuindo naturalmente. Além disso, no mercado de trabalho, a experiência é cada vez menos valorizada relativamente à capacidade de adaptação a novas situações, que surgem a uma velocidade cada vez maior. Quer sejam desenvolvimentos tecnológicos ou alterações de paradigmas de gestão, tudo muda, constantemente. Espera-se que os trabalhadores percorram muitos empregos, uma vez que as empresas poderão muito mais facilmente abrir e fechar portas e fazer reestruturações. Agora pergunto: como é que uma pessoa com mais de sessenta e cinco anos pode acompanhar este ritmo? Dos sessenta e cinco aos sessenta e oito, com subsídios de desemprego. E depois? Com formação profissional? Vão aprender Power Point? Ou turismo?

Por outro lado, conta-se com a mão de obra dos imigrantes para suportar as reformas. Com filhos que exigirão aulas suplementares de português. Os de leste mais do que os dos PALOP, mas para estes últimos foram sempre muito insuficientes, ou mesmo inexistentes. Se o ensino se liberalizar da forma que agora alguns defendem, se a escola pública se tornar num pequenino gueto, se em tudo ficarmos iguais, na educação, aos Estados Unidos, isso será bom?

Os idosos quererão centros de dia, cuidados domésticos periódicos, eventualmente diários, locais em que se prestem cuidados paliativos em condições dignas. Nem todos terão a possibilidade de comprar uma velhice dourada, em condomínio de reformados...

Poderá manter-se o paternalismo e a demagogia com que os políticos tratam os mais velhos? Por quanto tempo?

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