"O tema é irritante, principalmente para as mulheres. E não é novo. A querela do feminismo fez correr rios de tinta e está agora mais ou menos encerrada. Não toquemos mais nisso... No entanto, ainda se fala dela. E não parece que as volumosas tolices lançadas neste último século tenham realmente esclarecido a questão.
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"A propósito de uma obra, de resto assaz irritante, intitulada Modern Woman, a Lost Sex, Dorothy Parker escreveu: «Não posso ser justa em relação aos livros que tratam da mulher como mulher... A minha ideia é que todos, homens e mulheres, o que quer que sejamos, devemos ser considerados seres humamos.» Mas o nominalismo é uma doutrina um tanto limitada; e os anti-feministas não têm dificuldade em demonstrar que as mulheres não são homens. (...) Em verdade, basta andar de olhos abertos para comprovar que a humanidade se reparte em duas categorias de indivíduos, cujas roupas, rostos, corpos, sorrisos, atitudes, interesses e ocupações são manifestamente diferentes: talvez essas diferenças sejam superficiais, talvez se destinem a desaparecer. O certo é que por enquanto elas existem com uma evidência gritante.
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"A fim de provar a inferioridade da mulher, os anti-feministas apelaram não só para a religião, a filosofia e a teologia, como no passado, mas ainda para a ciência: biologia, psicologia experimental, etc. Quando muito, consentia-se em conceder ao outro sexo «a igualdade dentro da diferença». Essa fórmula, que conheceu grande êxito, é muito significativa: é exactamente a que utilizam, em relação aos negros dos E.U.A., as leis Jim Crow; ora, essa segregação, pretensamente igualitária, só serviu para introduzir as mais extremas discriminações."
(Simone de Beauvoir, O segundo sexo, primeira edição francesa em 1949)
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