domingo, dezembro 31, 2006
A pena de morte de Saddam Hussein
Que a populaça maioritária defenda a pena de morte parece um dado inquestionável. Será? A informação e a reflexão não poderiam fazer alguma diferença?
O caso de Saddam é apenas o caso extremo. Um caso em que não poderia questionar-se a desproporcionadade da pena depois de aceitar o princípio do olho por olho e dente por dente - e ele é muito aceite pela populaça.
Irrecuperável, dizem alguns. Assim seria Saddam. Mas por que não também o marido traído que mata a mulher? Por que não também o miúdo que rouba laranjas numa horta alheia? Onde está a misericórdia que devia estar presente na nossa matriz cristã? Onde está a esperança? A esperança na salvação ou, então, a esperança no Homem?
Matou "por prazer"? Mas isso não significa que se trata de um caso psiquiátrico? Matam-se os loucos, por serem loucos? Se não era louco, então haveria que condenar todos os seus cúmplices, os partidários do Baas. E talvez alguns mais.
A pena de morte previne novos crimes? Muito questionável. Dá resposta à sede de vingança das vítimas? As leis devem ser racionais.
Os estados devem ser soberanos no seu direito a matar? Por que raios?! Porque alguns o são? Porque alguns até matam crianças? Porque alguns, ditos civilizados, estão, de facto, em retrocesso civilizacional, tendo reintroduzido a pena de morte depois de a já terem banido?
Pergunto-me por que é que tropas em representação do meu país, que teria uma tradição abolicionista da pena de morte a defender, estão a colaborar no estabelecimento de um regime onde existe a pena de morte. Os políticos europeus deveriam ser mais consequentes nas suas tomadas de posição.
O caso de Saddam é apenas o caso extremo. Um caso em que não poderia questionar-se a desproporcionadade da pena depois de aceitar o princípio do olho por olho e dente por dente - e ele é muito aceite pela populaça.
Irrecuperável, dizem alguns. Assim seria Saddam. Mas por que não também o marido traído que mata a mulher? Por que não também o miúdo que rouba laranjas numa horta alheia? Onde está a misericórdia que devia estar presente na nossa matriz cristã? Onde está a esperança? A esperança na salvação ou, então, a esperança no Homem?
Matou "por prazer"? Mas isso não significa que se trata de um caso psiquiátrico? Matam-se os loucos, por serem loucos? Se não era louco, então haveria que condenar todos os seus cúmplices, os partidários do Baas. E talvez alguns mais.
A pena de morte previne novos crimes? Muito questionável. Dá resposta à sede de vingança das vítimas? As leis devem ser racionais.
Os estados devem ser soberanos no seu direito a matar? Por que raios?! Porque alguns o são? Porque alguns até matam crianças? Porque alguns, ditos civilizados, estão, de facto, em retrocesso civilizacional, tendo reintroduzido a pena de morte depois de a já terem banido?
Pergunto-me por que é que tropas em representação do meu país, que teria uma tradição abolicionista da pena de morte a defender, estão a colaborar no estabelecimento de um regime onde existe a pena de morte. Os políticos europeus deveriam ser mais consequentes nas suas tomadas de posição.
Amálgama do dia
1. O percurso até à rejeição da pena de morte em todas as circunstâncias é um percurso longo. O que impressiona são os que não têm sequer a disponibilidade mental para percorrê-lo.
2. O abandono a que educação familiar das crianças está sujeito, em cidades em tempos de stress, nota-se em pequenas coisas. Por exemplo, quando uma criança faz uma pergunta sem nenhum sentido, o adulto responde como se fosse uma pergunta normal, ou nem sequer diz nada. Não é que não possa haver espaço para algum non sense, que estimule a imaginação, mas seria muito natural que uma pergunta sem nexo fosse motivo para algum humor ou, então, para uma explicação pedagógica. (Quem não gosta das boas perguntas das crianças?) Mas só reparamos que há algo errado quando as palmadas demasiado toleradas já fizeram a escalada até aos maus tratos fatais.
2. O abandono a que educação familiar das crianças está sujeito, em cidades em tempos de stress, nota-se em pequenas coisas. Por exemplo, quando uma criança faz uma pergunta sem nenhum sentido, o adulto responde como se fosse uma pergunta normal, ou nem sequer diz nada. Não é que não possa haver espaço para algum non sense, que estimule a imaginação, mas seria muito natural que uma pergunta sem nexo fosse motivo para algum humor ou, então, para uma explicação pedagógica. (Quem não gosta das boas perguntas das crianças?) Mas só reparamos que há algo errado quando as palmadas demasiado toleradas já fizeram a escalada até aos maus tratos fatais.
quarta-feira, dezembro 27, 2006
terça-feira, dezembro 26, 2006
Porquê?
Depois de uns bonecos feios e sanguinários que passavam na televisão há alguns anos, é um alívio para os pais terem o Noddy: o boneco é o mais inofensivo que se poderia imaginar. Pena é só servir para crianças até aos dois anos...
E depois, o que é que conta? Porque é que gostamos mais de uns bonecos do que de outros, quando ainda não sabemos nada de nada?
De acordo com a Wikipedia, a imagem de marca de Bugs Bunny é a vitória. De facto, ele ganha sempre. Mas havia mais: o traço definido (muito pouco de coelhinho fofinho), a negação da inevitabilidade da caça, a superioridade da inteligência relativamente à arma do caçador. (Será que as crianças também podem ter consciência de "classe"? Os músculos não abundam...)
O riso sarcástico de Muttley, nas Corridas Loucas, era o riso de desprezo pela batota e pela cobiça desmedida. As coisas aqui complicavam-se, já não era só tomar o partido dos vencedores, mas ainda era preciso tomar partido. E Muttley era o sarcástico que não deixava de ser bom tipo.
E depois, o que é que conta? Porque é que gostamos mais de uns bonecos do que de outros, quando ainda não sabemos nada de nada?
De acordo com a Wikipedia, a imagem de marca de Bugs Bunny é a vitória. De facto, ele ganha sempre. Mas havia mais: o traço definido (muito pouco de coelhinho fofinho), a negação da inevitabilidade da caça, a superioridade da inteligência relativamente à arma do caçador. (Será que as crianças também podem ter consciência de "classe"? Os músculos não abundam...)
O riso sarcástico de Muttley, nas Corridas Loucas, era o riso de desprezo pela batota e pela cobiça desmedida. As coisas aqui complicavam-se, já não era só tomar o partido dos vencedores, mas ainda era preciso tomar partido. E Muttley era o sarcástico que não deixava de ser bom tipo.
Espírito natalício (II)
Por sugestão deixada numa caixa de comentários, aqui fica outra canção com uma Laurinda. Comentário no final.
Laurinda
Ó Laurinda, linda, linda
Ó Laurinda, linda, linda
És mais linda do qu'o Sol(e)
Deixa-me dormir uma noite
Nas bordas do teu lençol
Sim, sim, cavalheiro, sim
Sim, sim, cavalheiro, sim
Hoje sim, amanhã não
Meu marido, não esta cá
Foi pr'a feira de Marvão
Onze horas, meia-noite
Onze horas, meia-noite
Marido a porta bateu
Bateu uma, bateu duas
Laurinda não respondeu
Ou ela está doentinha
Ou ela está doentinha
Ou encontrou outro amor
Ou então procur'a chave
Lá no meio do corredor
De quem é aquele chapéu?
De quem é aquele chapéu?
Debroado a galão
É para ti meu marido
Que fiz eu por minha mão
De quem é aquele casaco?
De quem é aquele casaco?
Que ali vejo pendurado
É para ti meu marido
Que o trazeis bem ganhado
De quem é aquele cavalo?
De quem é aquele cavalo?
Que na minha esquadra entrou
É para ti meu marido
Foi teu pai quem tu mandou
De quem é aquele suspiro?
De quem é aquele suspiro?
Que ao meu leito se atirou
Laurinda, que aquilo ouviu
Caiu no chão desmaiou
Ó Laurinda, linda, linda
Ó Laurinda, linda, linda
Não vale a pena desmaiar
Todo o amor, que t'eu tinha
Vai-se agora acabar
Vai buscar as tuas irmãs
Vai buscar as tuas irmãs
Trá-las todas num andor
Que a mais linda delas todas
Há-de ser meu novo amor
(rimance popular)
(via)
Esta Laurinda não saiu muito bem na fotografia, pois não? A deslealdade não é bonita. Mas a canção vem de um passado que é difícil recriar: é um mundo onde não existia divórcio, onde o corpo da mulher era coisificado na lei, onde um marido podia achar que tinha um fornecimento contínuo de "amores" entre as filhas de uma casa. Ao folhear as Novas Cartas Portuguesas, de 1971/72, encontram-se memórias de como era a vida de mulheres mal casadas, antes do 25 de Abril. Já para não falar das histórias que vamos conhecendo.
Será que algum dia os tempos do aborto criminalizado vão, também, ser parte do passado?
Laurinda
Ó Laurinda, linda, linda
Ó Laurinda, linda, linda
És mais linda do qu'o Sol(e)
Deixa-me dormir uma noite
Nas bordas do teu lençol
Sim, sim, cavalheiro, sim
Sim, sim, cavalheiro, sim
Hoje sim, amanhã não
Meu marido, não esta cá
Foi pr'a feira de Marvão
Onze horas, meia-noite
Onze horas, meia-noite
Marido a porta bateu
Bateu uma, bateu duas
Laurinda não respondeu
Ou ela está doentinha
Ou ela está doentinha
Ou encontrou outro amor
Ou então procur'a chave
Lá no meio do corredor
De quem é aquele chapéu?
De quem é aquele chapéu?
Debroado a galão
É para ti meu marido
Que fiz eu por minha mão
De quem é aquele casaco?
De quem é aquele casaco?
Que ali vejo pendurado
É para ti meu marido
Que o trazeis bem ganhado
De quem é aquele cavalo?
De quem é aquele cavalo?
Que na minha esquadra entrou
É para ti meu marido
Foi teu pai quem tu mandou
De quem é aquele suspiro?
De quem é aquele suspiro?
Que ao meu leito se atirou
Laurinda, que aquilo ouviu
Caiu no chão desmaiou
Ó Laurinda, linda, linda
Ó Laurinda, linda, linda
Não vale a pena desmaiar
Todo o amor, que t'eu tinha
Vai-se agora acabar
Vai buscar as tuas irmãs
Vai buscar as tuas irmãs
Trá-las todas num andor
Que a mais linda delas todas
Há-de ser meu novo amor
(rimance popular)
(via)
Esta Laurinda não saiu muito bem na fotografia, pois não? A deslealdade não é bonita. Mas a canção vem de um passado que é difícil recriar: é um mundo onde não existia divórcio, onde o corpo da mulher era coisificado na lei, onde um marido podia achar que tinha um fornecimento contínuo de "amores" entre as filhas de uma casa. Ao folhear as Novas Cartas Portuguesas, de 1971/72, encontram-se memórias de como era a vida de mulheres mal casadas, antes do 25 de Abril. Já para não falar das histórias que vamos conhecendo.
Será que algum dia os tempos do aborto criminalizado vão, também, ser parte do passado?
Paradoxo do anonimato...
... é não poder falar aqui da razão da escolha do nome, "Laurindinha". Porque, não sendo nome próprio, há necessariamente uma razão.
domingo, dezembro 24, 2006
Fogo
A primeira contribuição original desta pastora (por supuesto que las hay!) para o YouTube, publicada aqui em 28 de Fevereiro, é este pequeno vídeo prometeico:
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
Fonte: abrigodepastora.blogspot.com
Que tal? Aconcheguem-se.
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
Fonte: abrigodepastora.blogspot.com
Que tal? Aconcheguem-se.
Santo Natal
(Vilhelm Hammershøi)
Associo o despojamento dos interiores nos quadros de Hammershøi ao meu imaginário sobre os Quakers, os tais amigos de uma sociedade religiosa, que já ganharam um Nobel da Paz. Suponho que nunca tenha havido nenhum quaker português...
quinta-feira, dezembro 21, 2006
Aquela triste e leda madrugada
Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se dúa outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.
(Luís Vaz de Camões)
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se dúa outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.
(Luís Vaz de Camões)
Por detrás de uma pedra do abrigo, um papel esquecido
[exercício de escrita falhado]
Querido Y.,
Esta é a carta mais difícil que já escrevi até hoje. És a pessoa mais importante para mim. Sinto-me imensamente privilegiada por ter-te conhecido e por termos passados tantos bons momentos juntos. Sempre achei que não te merecia, que o criador tinha sido injunto ao não me dar mais qualidades, que de bom grado poria ao dispor da tua felicidade. Tu mereces tudo, mereces a perfeição.
Tentámos comunicar, conhecermo-nos, partilharmos projectos. Tentámos ser um, como no mito platónico. Mas não conseguimos fugir à nossa natureza, pois não? Continuamos seres imperfeitos, as nossas hormonas são produzidas a ritmos irregulares... Começamos a pensar para nós, a não compartilhar, a não comunicar.
Vi, nos teus olhos, a paixão arrefecer. Viste a realidade, apenas isso. Não posso culpar-te.
Por isso, ponho fim à nossa história. Antes que se torne pequenina, antes que nos tornemos mesquinhos. Teremos sempre o reino das doces recordações. Mas se não quiseres recordar, também aceito. Fecha este capítulo e começa outro, em tudo diferente. Quem sou eu para te condenar, se for essa a tua opção?
Apesar de tudo, ainda acredito nessa ideia tola das reencarnações. Que somos duas metades de um todo. Só que o todo é espiritual, e a carne e a natureza humana estão contra nós.
Até sempre,
Aleph
Querido Y.,
Esta é a carta mais difícil que já escrevi até hoje. És a pessoa mais importante para mim. Sinto-me imensamente privilegiada por ter-te conhecido e por termos passados tantos bons momentos juntos. Sempre achei que não te merecia, que o criador tinha sido injunto ao não me dar mais qualidades, que de bom grado poria ao dispor da tua felicidade. Tu mereces tudo, mereces a perfeição.
Tentámos comunicar, conhecermo-nos, partilharmos projectos. Tentámos ser um, como no mito platónico. Mas não conseguimos fugir à nossa natureza, pois não? Continuamos seres imperfeitos, as nossas hormonas são produzidas a ritmos irregulares... Começamos a pensar para nós, a não compartilhar, a não comunicar.
Vi, nos teus olhos, a paixão arrefecer. Viste a realidade, apenas isso. Não posso culpar-te.
Por isso, ponho fim à nossa história. Antes que se torne pequenina, antes que nos tornemos mesquinhos. Teremos sempre o reino das doces recordações. Mas se não quiseres recordar, também aceito. Fecha este capítulo e começa outro, em tudo diferente. Quem sou eu para te condenar, se for essa a tua opção?
Apesar de tudo, ainda acredito nessa ideia tola das reencarnações. Que somos duas metades de um todo. Só que o todo é espiritual, e a carne e a natureza humana estão contra nós.
Até sempre,
Aleph
Por detrás de uma pedra do abrigo, um papel esquecido
[exercício de escrita falhado]
K.
Senhor Doutor, espero que me possa ajudar. Vim consultá-lo porque cheguei à conclusão de que, sozinho, não consigo superar a dor que sinto dentro de mim. Não é uma dor física, é um sofrimento mental, mas nem por isso é menos intenso. A minha mulher pediu o divórcio, vai para três meses, e vai às consultas de aconselhamento familiar apenas para cumprir uma formalidade. Diz que já não me ama, e que o tempo não volta para trás. Ah!, Senhor Doutor, não sabe o que é, sentir este abandono, por parte de quem era a pessoa mais importante para nós. Os meus familiares e os meus amigos bem tentam animar-me, dizem-me que ela não me merece, mas o que eu sinto é apenas uma brutal solidão. Como se, de repente, fosse um lobo colocado no mundo, condenado a vaguear para sempre sozinho por entre florestas negras. Porque... Doutor... nunca mais me vou apaixonar. Pelo menos, nunca mais com a entrega com que estive com esta mulher. Estou cheio de frio! É o que me acontece agora, todas as noites, quando me vou deitar. Não consigo adormecer porque sinto a falta do calor do corpo dela. Por isso, parece que me sinto num congelador. Senhor Doutor, não sei como poderá ajudar-me. Como poderá devolver algum sentido à minha vida, se perdi a minha companheira que elegi de entre todas as mulheres e a quem amei de corpo e alma!
K.
Senhor Doutor, espero que me possa ajudar. Vim consultá-lo porque cheguei à conclusão de que, sozinho, não consigo superar a dor que sinto dentro de mim. Não é uma dor física, é um sofrimento mental, mas nem por isso é menos intenso. A minha mulher pediu o divórcio, vai para três meses, e vai às consultas de aconselhamento familiar apenas para cumprir uma formalidade. Diz que já não me ama, e que o tempo não volta para trás. Ah!, Senhor Doutor, não sabe o que é, sentir este abandono, por parte de quem era a pessoa mais importante para nós. Os meus familiares e os meus amigos bem tentam animar-me, dizem-me que ela não me merece, mas o que eu sinto é apenas uma brutal solidão. Como se, de repente, fosse um lobo colocado no mundo, condenado a vaguear para sempre sozinho por entre florestas negras. Porque... Doutor... nunca mais me vou apaixonar. Pelo menos, nunca mais com a entrega com que estive com esta mulher. Estou cheio de frio! É o que me acontece agora, todas as noites, quando me vou deitar. Não consigo adormecer porque sinto a falta do calor do corpo dela. Por isso, parece que me sinto num congelador. Senhor Doutor, não sei como poderá ajudar-me. Como poderá devolver algum sentido à minha vida, se perdi a minha companheira que elegi de entre todas as mulheres e a quem amei de corpo e alma!
Sob o signo do falhanço
O desgosto amoroso é sal para a literatura. Lembram-se da xaropada do "Amor de Perdição"? Do "Romeu e Julieta"? Já houve até quem concebesse um divórcio como experiência proto-literária. Tudo um pouco excessivo... Mas quanto do melhor Camões lírico ou de Bocage não deixaríamos de ler se não fosse os seus infortúnios?
quarta-feira, dezembro 20, 2006
Espírito natalício
Entre os visitantes que aqui chegam a partir do Google, há sempre alguns à procura da letra da canção da Laurindinha. Pois bem, aqui a têm.
Laurindinha
(Música Popular Portuguesa)
Oh Laurindinha! Vem à janela! (Bis)
Ver o teu amor, ai, ai, ai
Que ele vai para' guerra (Bis)
Se ele vai p'rá guerra, deixai-o ir! (Bis)
É um rapaz novo, ai, ai, ai
Ele torna' vir (Bis)
Ele torna vir, se Deus quiser (Bis)
Ainda vem a tempo, ai, ai, ai
De arranjar mulher (Bis)
Ele torna vir, virá ou não (Bis)
Oh Laurindinha, ai, ai, ai
Dá-me a tua mão (Bis)
(via)
Laurindinha
(Música Popular Portuguesa)
Oh Laurindinha! Vem à janela! (Bis)
Ver o teu amor, ai, ai, ai
Que ele vai para' guerra (Bis)
Se ele vai p'rá guerra, deixai-o ir! (Bis)
É um rapaz novo, ai, ai, ai
Ele torna' vir (Bis)
Ele torna vir, se Deus quiser (Bis)
Ainda vem a tempo, ai, ai, ai
De arranjar mulher (Bis)
Ele torna vir, virá ou não (Bis)
Oh Laurindinha, ai, ai, ai
Dá-me a tua mão (Bis)
(via)
Dúvida
Serei só eu a achar os anúncios da TV Cabo ligeiramente insultuosos para quem não tem dinheiro para a pagar?
terça-feira, dezembro 19, 2006
Um vídeo de 2006
São 20'35'' que valem a pena - várias "lições" fundamentadas com números. A apresentação multimédia parece ser Flash, mas pode ser software proprietário. Muito interessante, de qualquer modo. Descoberto graças ao Adufe.
Entretanto, as "flores" começam a florir, no NationMaster (descoberto no Ponto Media - um blog com o formato ideal para consumo diário via Bloglines).
segunda-feira, dezembro 18, 2006
TLEBS
Uma modesta opinião. O texto da petição sobre a TLEBS não eliminou as dúvidas que tinha. Desde que me lembro que considero a gramática que aprendi na escola e, depois, as "árvores" que conheci numa gramática bastante insuficientes para compreender o funcionamento da língua e escrever sem erros e com clareza. Há alguns anos, ao contactar alguém durante a elaboração de uma obra de referência linguística, apercebi-me de que o "ensino" da língua aos computadores, ou seja, a sua racionalização, era um imperativo para o futuro. Também disto depende a projecção do português no mundo.
Por outro lado, é evidente que não se deve ensinar qualquer gramática para assassinar textos literários, na escola. Mas isto é válido para qualquer gramática. E o ensino e o treino da leitura e, em particular, dos clássicos, portugueses e universais, deveriam ter um tratamento próprio nos currículos escolares.
Será o material de apoio à TLEBS insuficiente? O que dá para descarregar pela rede e o sítio de discussão não dão resposta às dúvidas de professores e de pais? Não há suficientes novas gramáticas editadas? Não sei. Mas também me parece uma questão lateral.
Não vejo nenhuma razão para que o que hoje é conhecimento consolidado numa área de conhecimento deva ser impedido de entrar nas escolas. O facto de a terminologia não ser fácil nem familiar não é razão.
Por outro lado, é evidente que não se deve ensinar qualquer gramática para assassinar textos literários, na escola. Mas isto é válido para qualquer gramática. E o ensino e o treino da leitura e, em particular, dos clássicos, portugueses e universais, deveriam ter um tratamento próprio nos currículos escolares.
Será o material de apoio à TLEBS insuficiente? O que dá para descarregar pela rede e o sítio de discussão não dão resposta às dúvidas de professores e de pais? Não há suficientes novas gramáticas editadas? Não sei. Mas também me parece uma questão lateral.
Não vejo nenhuma razão para que o que hoje é conhecimento consolidado numa área de conhecimento deva ser impedido de entrar nas escolas. O facto de a terminologia não ser fácil nem familiar não é razão.
Multiplicidades
Diverte-me a associação da leitura de mais do que um livro à poligamia. É melhor esclarecer que a considero absurda. Se não, o que dizer dos mais de dez compêndios escolares de cada vez? Ou da colecção necessária, profissionalmente?
Sintomas
Em vésperas de época natalícia, ouvir de três bocas diferentes que preferiam que este ano não houvesse Natal. O consumismo enjoa.
domingo, dezembro 17, 2006
Acordai
Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz
Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações
Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!
(José Gomes Ferreira)
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz
Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações
Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!
(José Gomes Ferreira)
As instruções para o origami são incompletas
Pelas minhas contas, 27,5% dos portugueses saberão isso. (Mesmo assim, está feito, com alguma ajuda do YouTube.)
Esse grande escultor (amálgama)
Poucas páginas à frente da síntese iluminada de um dos livros que ando a ler, e que registei aqui, há uma indelével marca do tempo. A concepção da natureza é completamente datada e ultrapassada. O autor, de uma seriedade e honestidade intelectual brutais, comete os mesmos erros de Aristóteles. Mesmo assim, tenho a certeza de que gostaria de saber o que, hoje, qualquer aluno atento aprende no liceu: sobre fósseis e a lei de Hubble, por exemplo.
A seta do tempo na história da ciência existe. Se, daqui a mil anos, alguém comparasse as passagens que agora leio com perplexidade com qualquer texto deste século sobre as mesmas matérias, saberia qual foi escrito antes e qual foi escrito depois. Pelo meio, saberia que estiveram, necessariamente, novos dados empíricos e mais elaboradas formulações teóricas. (A actual difusão do criacionismo e da hipótese do "desenho inteligente" só se compreendem como epifenómenos não científicos, como contaminações das áreas de intervenção da ciência, a que só foi possível dar espaço por se ter levado Kuhn demasiado a sério.)
Pastora ignorante, interrogo-me sobre em que medida a seta do tempo do conhecimento científico, nas ciências da natureza, pode ter algum equivalente nas ciências sociais e na história. A forma como olhamos para nós próprios evolui para níveis de elaboração cada vez maiores, e em sucessão (um pouco como camadas geológicas). Poucas escolas de pensamento poderão dizer ser o seu desenvolvimento alheio às que as precederam. Do mesmo modo, os acontecimentos históricos e a evolução social são determinantes na definição dos seus objectos de estudo e dos seus métodos.
Comparemos, por exemplo, a aceitação da tortura generalizada de prisioneiros na Grécia antiga com a preocupação pela dor na execuções por injecção letal, nos Estados Unidos de hoje. Daqui a dez mil anos, quem as cotejar, saberá qual é o antes e qual é o depois.
Apesar de a evolução biológica humana ser demasiado lenta para que lhe vejamos a marca, de continuarmos igulamente violentos, as sociedades humanas têm evoluído, como resultado do seu desenvolvimento cultural. As guerras tomam outros contornos, fruto das lições tiradas das anteriores. Guerras por pequenas parcelas de terra ou por lutas dinásticas, como as que sucederam na Europa até ao século XIX, dificilmente se repetirão nos mesmos termos - pelo menos, enquanto houver memória da sua insensatez. As duas guerras mundiais e os milhões de mortos que provocaram levaram à criação de fóruns internacionais de diálogo de todos os estados do mundo. Hoje, uma grande fracção da população humana vive protegida pelas leis sucessoras da Déclaration des droits de l'homme et du citoyen e da Bill of Rights e a restante anseia por essa protecção.
Estão a ver onde é que vejo o sentido da seta do tempo, para lá da evolução da ciência (e da tecnologia, como corolário)? É como se a humanidade fosse um menino pequeno, que tem que aprender com os seus erros, mas acaba por aprender. Sempre, perguntarão? E deverá o adulto, ou seja, os que se julgam mais esclarecidos do que a multidão, prevenir quedas em abismos?
Pode discutir-se a previsibilidade do "destino final" do sentido da história e a intencionalidade e causalidade da política a longo prazo. Poderia, como primeira aproximação, fazer-se a analogia dos destinos humanos a um sistema meteorológico - de que não adianta fazer previsões de detalhe para mais de três dias, por ser um sistema caótico. Há, numa segunda aproximação, a evolução do clima, onde pode haver tendências, resultantes da acumulação de memória e de uma cada vez maior interacção entre agentes. Neste caso, o "mercado do carbono" é um imperativo.
Fico por aqui, porque agora não tenho mais tempo.
A seta do tempo na história da ciência existe. Se, daqui a mil anos, alguém comparasse as passagens que agora leio com perplexidade com qualquer texto deste século sobre as mesmas matérias, saberia qual foi escrito antes e qual foi escrito depois. Pelo meio, saberia que estiveram, necessariamente, novos dados empíricos e mais elaboradas formulações teóricas. (A actual difusão do criacionismo e da hipótese do "desenho inteligente" só se compreendem como epifenómenos não científicos, como contaminações das áreas de intervenção da ciência, a que só foi possível dar espaço por se ter levado Kuhn demasiado a sério.)
Pastora ignorante, interrogo-me sobre em que medida a seta do tempo do conhecimento científico, nas ciências da natureza, pode ter algum equivalente nas ciências sociais e na história. A forma como olhamos para nós próprios evolui para níveis de elaboração cada vez maiores, e em sucessão (um pouco como camadas geológicas). Poucas escolas de pensamento poderão dizer ser o seu desenvolvimento alheio às que as precederam. Do mesmo modo, os acontecimentos históricos e a evolução social são determinantes na definição dos seus objectos de estudo e dos seus métodos.
Comparemos, por exemplo, a aceitação da tortura generalizada de prisioneiros na Grécia antiga com a preocupação pela dor na execuções por injecção letal, nos Estados Unidos de hoje. Daqui a dez mil anos, quem as cotejar, saberá qual é o antes e qual é o depois.
Apesar de a evolução biológica humana ser demasiado lenta para que lhe vejamos a marca, de continuarmos igulamente violentos, as sociedades humanas têm evoluído, como resultado do seu desenvolvimento cultural. As guerras tomam outros contornos, fruto das lições tiradas das anteriores. Guerras por pequenas parcelas de terra ou por lutas dinásticas, como as que sucederam na Europa até ao século XIX, dificilmente se repetirão nos mesmos termos - pelo menos, enquanto houver memória da sua insensatez. As duas guerras mundiais e os milhões de mortos que provocaram levaram à criação de fóruns internacionais de diálogo de todos os estados do mundo. Hoje, uma grande fracção da população humana vive protegida pelas leis sucessoras da Déclaration des droits de l'homme et du citoyen e da Bill of Rights e a restante anseia por essa protecção.
Estão a ver onde é que vejo o sentido da seta do tempo, para lá da evolução da ciência (e da tecnologia, como corolário)? É como se a humanidade fosse um menino pequeno, que tem que aprender com os seus erros, mas acaba por aprender. Sempre, perguntarão? E deverá o adulto, ou seja, os que se julgam mais esclarecidos do que a multidão, prevenir quedas em abismos?
Pode discutir-se a previsibilidade do "destino final" do sentido da história e a intencionalidade e causalidade da política a longo prazo. Poderia, como primeira aproximação, fazer-se a analogia dos destinos humanos a um sistema meteorológico - de que não adianta fazer previsões de detalhe para mais de três dias, por ser um sistema caótico. Há, numa segunda aproximação, a evolução do clima, onde pode haver tendências, resultantes da acumulação de memória e de uma cada vez maior interacção entre agentes. Neste caso, o "mercado do carbono" é um imperativo.
Fico por aqui, porque agora não tenho mais tempo.
sábado, dezembro 16, 2006
Passeando
- Qual é o seu nome?
- Alberto Caeiro.
- Tem bilhete de identidade ou cédula pessoal?
- Nada. Só trago o meu rebanho.
- Tem pergaminhos a declarar? Toma chá?
- Não. Embriago-me às vezes com oxigénio...
- Tem pin-ups para troca?
- Só tenho o meu rebanho, já disse. (E não sou neo-zelandês...)
- ... Não... Assim, não pode entrar na Blogosfera Selecta.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
«Cordeiro afável de voz suave»
O discurso de despedida de Kofi Annan na Truman Presidential Museum & Library, em 11 de Dezembro de 2006. (WikiSource)
Cinco lições:
My first lesson is that, in today's world, the security of every one of us is linked to that of everyone else. [...]
My second lesson is that we are not only all responsible for each other's security. We are also, in some measure, responsible for each other's welfare. Global solidarity is both necessary and possible. [...]
My third lesson is that both security and development ultimately depend on respect for human rights and the rule of law. [...]
My fourth lesson — closely related to the last one — is that governments must be accountable for their actions in the international arena, as well as in the domestic one. [...]
My fifth and final lesson derives inescapably from those other four. We can only do all these things by working together through a multilateral system, and by making the best possible use of the unique instrument bequeathed to us by Harry Truman and his contemporaries, namely the United Nations. [...]
Cinco lições:
My first lesson is that, in today's world, the security of every one of us is linked to that of everyone else. [...]
My second lesson is that we are not only all responsible for each other's security. We are also, in some measure, responsible for each other's welfare. Global solidarity is both necessary and possible. [...]
My third lesson is that both security and development ultimately depend on respect for human rights and the rule of law. [...]
My fourth lesson — closely related to the last one — is that governments must be accountable for their actions in the international arena, as well as in the domestic one. [...]
My fifth and final lesson derives inescapably from those other four. We can only do all these things by working together through a multilateral system, and by making the best possible use of the unique instrument bequeathed to us by Harry Truman and his contemporaries, namely the United Nations. [...]
quarta-feira, dezembro 13, 2006
Leitura
Hoje a leitura foi luminosa e inspiradora. Trata-se de um senhor livro, exaustivo, que me acompanha há mais de ano e dia. (Sim, os livros bons podem demorar muito tempo a ler...) Há uma passagem que é uma síntese belíssima, que me provocou um reviver de momentos marcantes da infância e da adolescência. De além túmulo, a humanidade intemporal, na procura do seu melhor. Felizmente, ainda há dias assim.
Notas breves
1. Ao cuidado da PT: quantas semanas acham razoável esperar pela reparação de uma avaria na rede de cobre que torna impraticáveis os serviços que dela dependem? Obrigada.
2. Muito obrigada aos visitantes do AdP pela simpatia!
3. Estou perante um dilema. Começo a preferir o outro.
2. Muito obrigada aos visitantes do AdP pela simpatia!
3. Estou perante um dilema. Começo a preferir o outro.
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