«Cada um de nós é, por isso, como um símbolo, pois foi cortado em dois, como o linguado e, de um só, ficaram duas metades. Assim, cada uma procura a metade que lhe corresponde. (...)
Quando qualquer homem encontra a sua metade é possuído por transportes de ternura, de simpatia e de amor. Não quer separar-se mais, nem que seja por um instante! Eis as pessoas que passam uma vida inteira juntas, sem poderem dizer o que esperam uma da outra, pois não me parece que seja o prazer dos sentidos que os faz encontrar tanto prazer na companhia um do outro! (...)
A razão deste facto consiste em que a nossa antiga natureza era tal, que constituíamos um todo uno. O amor é a ânsia desta plenitude! (...)
Também nós devemos recear, no caso de faltarmos aos nossos deveres para com os deuses, sermos divididos mais uma vez e tornarmo-nos como as figuras de perfil, talhadas em baixo-relevo nas colunas, com o nariz cortado em dois, ou semelhantes a tésseras. É necessário que nos exortemos uns aos outros a honrar os deuses, a fim de escaparmos a este castigo e obtermos os bens provenientes de Eros, nosso guia e nosso chefe.
Que ninguém declare inimizade por Eros; declará-la significa expor-se à fúria dos deuses. Se conseguirmos a amizade e o favor do deus, descobriremos e reencontraremos aqueles a quem amamos, as nossas próprias metades, o que representa uma felicidade hoje reservada somente a poucos entre os vivos!»
Platão, "O Banquete (O Simpósio ou Do Amor)", Guimarães Editores, tradução de Pinharanda Gomes
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