quarta-feira, agosto 31, 2005

Respondendo a uma vaga de fundo da sociedade portuguesa, aqui a apresento (v.3):

ÍTACA

Quando começares a tua viagem para Ítaca
anseia por que o caminho seja longo,
cheio de aventuras, cheio de conhecimento.
Dos Lestrígones e dos Ciclopes,
do irado Posídon não tenhas medo,
nunca encontrarás coisas dessas no teu caminho,
se o teu pensamento se mantiver elevado, se um distinto
sentimento o teu espírito e o teu corpo tocar.

Os Lestrígones e os Ciclopes,
o feroz Posídon não encontrarás,
se não os carregares na tua alma,
se a tua alma não tos apresentar.

Anseia por que o caminho seja longo.
Que sejam muitas as manhãs de Verão
que com tal satisfação, com tal alegria,
entrarás em portos pela primeira vez;
pára em mercados fenícios,
para adquirires as boas mercadorias,
madrepérolas e corais, âmbares e ébanos,
e perfumes inebriantes de todos os tipos,
a maior quantidade de perfumes inebriantes;
visita muitas cidades do Egipto,
para aprenderes e aprenderes dos sábios.

Mantém Ítaca sempre no teu pensamento.
A chegada aí é o teu propósito.
Mas não apresses de maneira nenhuma a viagem.
Melhor que dure muitos anos;
e que chegues velho à ilha,
rico com tudo o que ganhaste no caminho,
não esperando que Ítaca te dê riqueza.

Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem ela nunca terias começado.
Mas não tem mais nada para te dar.

E se a encontrares pobre, Ítaca não te enganou.
Assim que te tornaste sábio, com tanta experiência,
terás já percebido o que as Ítacas significam.

Konstandinos Kavafis, 1910
Tradução de Carla Hilário Quevedo (com vénia)


Nota 1: Encontrei na rede várias traduções deste poema. Não sabendo eu nada de grego, escolhi pelo português.

Nota 2: Pelo caminho, além de um sítio onde encontrei uma das traduções, o Galaaz Literatura Portuguesa, descobri outro também interessante: o BookCrossing. Não sabia que a ideia já estava tão difundida.

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