«O medo vai ter tudo»
(Alexandre O'Neill)
Pergunto-me como terá começado o boato assassino que hoje matou quase seis centenas de pessoas, em Bagdade. Terá sido intencional? (Em vez de um bombista, terá havido um efabulador suicida? Ou haveria realmente um bombista?) Ou terá sido um crescendo de equívocos que se foi propagando? O mais provável é nunca se vir a saber.
É terrível pensar que somos mais vulneráveis quando estamos juntos, em grande número. Até porque as multidões que se formam para grandes celebrações religiosas são constituídas, muitas vezes, por pessoas desesperadas, que têm na religião não só o seu bálsamo, mas também a sua tábua de salvação.
Este horrível acidente provocado por homens poderia ter acontecido em qualquer parte do mundo onde já se tivesse ouvido a palavra "terrorismo", embora fosse mais provável num lugar diariamente martirizado por atentados. Um lugar em que duas seitas de uma mesma região partilham um território e uma riqueza comum e tentam agora encontrar regras para essa convivência. E há ainda tendências dentro de cada seita... Os xiitas sabem que, nas suas grandes celebrações religiosas, são vulneráveis a ataques. (Celebram datas de mortes e de martírios de líderes religiosos, coisa que não é comum noutras religiões.) Agora têm mais um martírio para o calendário, de seis centenas de seres humanos que morreram de forma estúpida. Poderia tudo isto, ao menos, unir os iraquianos enquanto grande família?
Também estou de luto, hoje.
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