"Sempre detestei qualquer modo de falar e escrever difícil, isto é, fora do natural. Tentar a originalidade, por esse processo, é cair na trivialidade vestida de ouropéis. Quem não é original não deve querer sê-lo à fina força, que é pior a emenda que o soneto. A originalidade é atributo do artista, que não do artifício. Mas, no tocante a linguagem, pensa a maior parte da gente que não é assim. Que a melhor maneira de não ser vulgar é servir-se, falando e escrevendo, não de termos próprios, mas invulgares. Daí o repúdio da boa palavra de ontem em benefício da má palavra de hoje, caso não possa imolar-se a má palavra de hoje a uma palavra péssima, que ainda esteja no choco. A maior parte das pessoas, nossas contemporâneas, seriam felizes se pudessem antecipar-se a netos e bisnetos, substituindo o termo fácil, que hoje define uma coisa, pelo palavrão difícil que a definirá no princípio do século XXI."
(João de Araújo Correia, "A Língua Portuguesa")
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