O que mais nos define: aquilo de que gostamos ou o que sabemos fazer? O Facebook define-nos pelos gostos e preferências, enquanto o Linkedin quer saber as nossas "competências" com interesse para supostos potenciais empregadores. Na primeira linha: Benfica ou Sporting? IOS ou Android? Série "pacote" A ou B? Temporada N ou M? Na segunda: tocar guitarra e cantar latim? Bolos ou bonecas de pano? Trocar lâmpadas? Vender? ("Ulisses rei da Ítaca carpinteirou seu barco/E gabava-se também de saber conduzir/Num campo a direito o sulco do arado").
Ora, Homero, se é que existiu, sabia escrever e gostava de contar histórias. Este exemplo sugere que, para o máximo sucesso e uma marca mais duradoura, deveríamos gostar da atividade que fazemos, que idealmente é uma que sabemos fazer bem. Mas a realidade é outra. "É a economia, estúpidos", diriam alguns. A maioria da humanidade trabalha muitas horas por dia por um salário baixo, sempre sentados ("the new smoking") ou sempre em pé (a ganhar varizes), num trabalho de que não gosta. Nas sociedades anteriormente desenvolvidas, longos períodos de desemprego, sem proteção social, são cada vez mais a norma.
Na sociedade ocidental, nos tempos recentes, uma classe média que aumentou antes de se dissipar, foram inventadas as férias e os passatempos, e as reformas pagas. (As crianças e os adolescentes só têm de ser estudantes.) Não serão escapes? Hoje, já não há dinheiro para luxos, é o tempo do marmitar como moda.
Sobre nós, as nuvens negras que são os nossos medos acompanham-nos ao longo da viagem. Se antes antecipávamos cogumelos nucleares, hoje imaginamos costas com o nível da água do mar cada vez mais elevado.
A amizade hoje é uma caricatura no Facebook.
O que somos? Para onde vamos?
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