"[A] liquidez dos activos financeiros torna-os potencialmente negativos para o resto da economia. Construir uma fábrica demora pelo menos alguns meses, senão mesmo anos, enquanto para acumular os conhecimentos práticos tecnológicos e organizacionais necessários para formar uma empresa de nível mundial são necessárias décadas. Pelo contrário, os activos financeiros podem ser transferidos e reorganizados em minutos, senão mesmo segundos. Esta enorme diferença cria problemas muito importantes, porque o capital financeiro é «impaciente» e procura obter ganhos de curto prazo [...]. No curto prazo, esta tendência cria instabilidade económica, pois o capital líquido espalha-se por todo o mundo quase sem aviso prévio e de formas «irracionais», como temos visto recentemente. Mais importante é o facto de, no longo prazo, gerar um fraco crescimento da produtividade, porque o investimento de longo prazo é cortado para satisfazer o capital impaciente. Em resultado disto, apesar do grande progresso no «aprofundamento financeiro» (ou seja, o aumento no rácio entre os activos financeiros e o PIB), o crescimento tem, na verdade, desacelerado nos últimos anos [...].
Assim, precisamente porque é eficiente a responder a novas oportunidades de lucro, o mundo financeiro pode tornar-se prejudicial para o resto da economia. E foi por isso que James Tobin, laureado com o Prémio [Nobel] da Economia em 1981, falou na necessidade de «atirar alguma areia para as engrenagens dos nossos excessivamente eficientes mercados monetários internacionais». Assim, ele propôs um imposto sobre as transacções financeiras, com o objectivo deliberado de reduzir a velocidade dos fluxos financeiros. Até há pouco tempo tema tabu nos círculos educados, o chamado imposto Tobin foi recentemente defendido por Gordon Brown, primeiro-ministro britânico. Todavia, o imposto Tobin não é a única forma de reduzir a diferença de velocidade entre o mundo financeiro e a economia real. Entre outras alternativas, há a possibilidade de dificultar as aquisições hostis (reduzindo, por conseguinte, os ganhos dos investimentos especulativos em acções), proibir a venda curta (a prática de vender acções que não se possui no momento da venda), aumentar os requisitos de margem (ou seja, a percentagem que tem de ser paga à cabeça quando se compram acções) ou a criação de restrições aos movimentos transfronteiriços de capital, especialmente para países em desenvolvimento."
("23 coisas que nunca lhe contam sobre a Economia", Ha-Joon Chang)
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