3
You air that serves me with breath to speak!
You objects that call from diffusion my meanings, and give them shape!
You light that wraps me and all things in delicate equable showers!
You paths worn in the irregular hollows by the roadsides!
I think you are latent with unseen existences—you are so dear to me.
You flagg’d walks of the cities! you strong curbs at the edges!
You ferries! you planks and posts of wharves! you timber-lined sides! you distant ships!
You rows of houses! you window-pierc’d façades! you roofs!
You porches and entrances! you copings and iron guards!
You windows whose transparent shells might expose so much!
You doors and ascending steps! you arches!
You gray stones of interminable pavements! you trodden crossings!
From all that has been near you, I believe you have imparted to yourselves, and now would impart the same secretly to me;
From the living and the dead I think you have peopled your impassive surfaces, and the spirits thereof would be evident and amicable with me.
(Walt Whitman)
sexta-feira, abril 27, 2007
quarta-feira, abril 25, 2007
quarta-feira, abril 18, 2007
Song of the Open Road
2
You road I enter upon and look around! I believe you are not all that is here;
I believe that much unseen is also here.
Here the profound lesson of reception, neither preference or denial;
The black with his woolly head, the felon, the diseas’d, the illiterate person, are not denied;
The birth, the hasting after the physician, the beggar’s tramp, the drunkard’s stagger, the laughing party of mechanics,
The escaped youth, the rich person’s carriage, the fop, the eloping couple,
The early market-man, the hearse, the moving of furniture into the town, the return back from the town,
They pass—I also pass—anything passes—none can be interdicted;
None but are accepted—none but are dear to me.
(Walt Whitman)
You road I enter upon and look around! I believe you are not all that is here;
I believe that much unseen is also here.
Here the profound lesson of reception, neither preference or denial;
The black with his woolly head, the felon, the diseas’d, the illiterate person, are not denied;
The birth, the hasting after the physician, the beggar’s tramp, the drunkard’s stagger, the laughing party of mechanics,
The escaped youth, the rich person’s carriage, the fop, the eloping couple,
The early market-man, the hearse, the moving of furniture into the town, the return back from the town,
They pass—I also pass—anything passes—none can be interdicted;
None but are accepted—none but are dear to me.
(Walt Whitman)
domingo, abril 15, 2007
a verdade(zinha)
*
Sócrates - [...] [N]ão te parece que se torna necessário que o orador se encontre bem instruído e informado acerca do tema sobre que vai discorrer?
Fedro - A esse respeito, presta atenção ao que ouvi dizer: ouvi dizer que para quem deseja tornar-se um orador consumado, não se torna necessário um conhecimento perfeito do que é realmente justo, mas sim do que parece justo aos olhos da maioria, que é quem decide, em última instância. Tão-pouco precisa de saber realmente o que é bom ou belo, bastando-lhe saber o que parece sê-lo, pois a persuasão se consegue, não com a verdade, mas com o que aparenta ser verdade.
Sócrates - Eis uma opinião difícil de rejeitar... impossível mesmo de rejeitar, Fedro, quando tal opinião é a das pessoas importantes; mas a nós compete analisar o seu significado, e muito particularmente o que acabas de dizer-me merece toda a atenção!
Fedro - Perfeitamente.
Sócrates - Vejamos então como examinar esse tema...
Fedro - Como o examinaremos?
Sócrates - Supõe por momentos que tento persuadir-te a comprar um cavalo para ires combater os teus inimigos mas que, tanto tu como eu, ignoramos o que seja um cavalo e que, entretanto, eu chegava à conclusão de que, no entender de Fedro, o cavalo é o animal doméstico com as orelhas mais compridas....
Fedro - Mas isso seria rídiculo, Sócrates!
Sócrates - Um momento, por enquanto! Ou que eu tentava seriamente persuadir-te a que escrevesses um panegírico do burro, chamando-o de cavalo e declarando que é muito prático adquirir essa besta, tanto para fins domésticos como para a guerra, que é tão útil na refrega das batalhas como no transporte de carga, como em qualquer outra coisa...
Fedro - Isso seria ainda mais ridículo!
Sócrates - Mas diz-me, não é verdade que o ridículo de um amigo é preferível à irredutível prepotência de um inimigo?
Fedro - Sem dúvida!
Sócrates - Por isso, quando um orador, ignorando a natureza do bem e do mal, se dirige aos seus concidadãos, que sofrem da mesma ignorância, para os tentar persuadir a tomarem a sombra de um burro por um cavalo, ou o mal pelo bem; quando, depois de ter ouvido as opiniões da maioria, a impele para o mau caminho, em casos como este, quais são, a teu ver, os frutos que a arte oratória pode colher daquilo que semeou?
Fedro - Um fruto que não pode ser nada bom.
(Platão, Fedro, trad. Pinharanda Gomes, Guimarães, 2000)
Sócrates - [...] [N]ão te parece que se torna necessário que o orador se encontre bem instruído e informado acerca do tema sobre que vai discorrer?
Fedro - A esse respeito, presta atenção ao que ouvi dizer: ouvi dizer que para quem deseja tornar-se um orador consumado, não se torna necessário um conhecimento perfeito do que é realmente justo, mas sim do que parece justo aos olhos da maioria, que é quem decide, em última instância. Tão-pouco precisa de saber realmente o que é bom ou belo, bastando-lhe saber o que parece sê-lo, pois a persuasão se consegue, não com a verdade, mas com o que aparenta ser verdade.
Sócrates - Eis uma opinião difícil de rejeitar... impossível mesmo de rejeitar, Fedro, quando tal opinião é a das pessoas importantes; mas a nós compete analisar o seu significado, e muito particularmente o que acabas de dizer-me merece toda a atenção!
Fedro - Perfeitamente.
Sócrates - Vejamos então como examinar esse tema...
Fedro - Como o examinaremos?
Sócrates - Supõe por momentos que tento persuadir-te a comprar um cavalo para ires combater os teus inimigos mas que, tanto tu como eu, ignoramos o que seja um cavalo e que, entretanto, eu chegava à conclusão de que, no entender de Fedro, o cavalo é o animal doméstico com as orelhas mais compridas....
Fedro - Mas isso seria rídiculo, Sócrates!
Sócrates - Um momento, por enquanto! Ou que eu tentava seriamente persuadir-te a que escrevesses um panegírico do burro, chamando-o de cavalo e declarando que é muito prático adquirir essa besta, tanto para fins domésticos como para a guerra, que é tão útil na refrega das batalhas como no transporte de carga, como em qualquer outra coisa...
Fedro - Isso seria ainda mais ridículo!
Sócrates - Mas diz-me, não é verdade que o ridículo de um amigo é preferível à irredutível prepotência de um inimigo?
Fedro - Sem dúvida!
Sócrates - Por isso, quando um orador, ignorando a natureza do bem e do mal, se dirige aos seus concidadãos, que sofrem da mesma ignorância, para os tentar persuadir a tomarem a sombra de um burro por um cavalo, ou o mal pelo bem; quando, depois de ter ouvido as opiniões da maioria, a impele para o mau caminho, em casos como este, quais são, a teu ver, os frutos que a arte oratória pode colher daquilo que semeou?
Fedro - Um fruto que não pode ser nada bom.
(Platão, Fedro, trad. Pinharanda Gomes, Guimarães, 2000)
quarta-feira, abril 11, 2007
domingo, abril 08, 2007
Notas para a Recordação do meu Mestre Caeiro
I
Conheci o meu mestre Caeiro em circunstâncias excepcionais - como todas as circunstâncias da vida, e sobretudo as que, não sendo nada em si mesmas, hão-de vir a ser tudo nos resultados.
Deixei em quase três-quartos o meu curso escocês de engenharia naval; parti numa viagem ao Oriente; no regresso, desembarcando em Marselha, e sentindo um grande tédio de seguir, vim por terra até Lisboa. Um primo meu levou-me um dia de passeio ao Ribatejo; conhecia um primo de Caeiro, e tinha com ele negócios; encontrei-me com o que havia de ser meu mestre em casa desse seu primo. Não há mais que contar, porque isto é pequeno, como toda a fecundação.
Vejo ainda, com a claridade da alma, que as lágrimas da lembrança não empanam, porque a visão não é externa... Vejo-o diante de mim, e vê-lo-ei talvez eternamente como primeiro o vi. Primeiro, os olhos azuis de criança que não tem medo; depois, os malares já um pouco salientes, a cor um pouco pálida, e o estranho ar grego, que vinha de dentro e era uma calma, e não de fora, porque não era expressão nem feições. O cabelo, quase abundante, era louro, mas, se faltava luz, acastanhava-se. A estatura era média, tendendo para mais alta, mas curvada, sem ombros altos. O gesto era branco, o sorriso era como era, a voz era igual, lançada num tom de quem não procura senão dizer o que está dizendo - nem alta nem baixa, clara, livre de intenções, de hesitações, de timidezas. O olhar azul não sabia deixar de fitar. Se a nossa observação estranhava qualquer coisa, encontrava-a: a testa, sem ser alta, era poderosamente branca. Repito: era pela sua brancura, que parecia maior que a da cara pálida, que tinha majestade. As mãos um pouco delgadas, mas não muito; a palma era larga. A expressão da boca, a última coisa em que se reparava - como se falar fosse, para este homem, menos que existir - era a de um sorriso como o que se atribui em verso às coisas inanimadas belas, só porque nos agradam - flores, campos largos, águas com sol -, um sorriso de existir, e não de nos falar.
Meu mestre, meu mestre, perdido tão cedo! Revejo-o na sombra que sou em mim, na memória que conservo do que sou de morto...
Foi durante a nossa primeira conversa... Como foi, não sei, e ele disse: "Está aqui um rapaz Ricardo Reis que há-de gostar de conhecer: ele é muito diferente de si". E depois acrescentou, "tudo é diferente de nós, e por isso é que tudo existe".
Esta frase, dita como se fosse um axioma da terra, seduziu-me com um abalo, como o de todas as primeiras posses, que me entrou nos alicerces da alma. Mas, ao contrário da sedução material, o efeito em mim foi de receber de repente, em todas as minhas sensações, uma virgindade que não tinha tido.
(Álvaro de Campos, in "Notas para a Recordação do meu Mestre Caeiro", Estampa, 1997)
Conheci o meu mestre Caeiro em circunstâncias excepcionais - como todas as circunstâncias da vida, e sobretudo as que, não sendo nada em si mesmas, hão-de vir a ser tudo nos resultados.
Deixei em quase três-quartos o meu curso escocês de engenharia naval; parti numa viagem ao Oriente; no regresso, desembarcando em Marselha, e sentindo um grande tédio de seguir, vim por terra até Lisboa. Um primo meu levou-me um dia de passeio ao Ribatejo; conhecia um primo de Caeiro, e tinha com ele negócios; encontrei-me com o que havia de ser meu mestre em casa desse seu primo. Não há mais que contar, porque isto é pequeno, como toda a fecundação.
Vejo ainda, com a claridade da alma, que as lágrimas da lembrança não empanam, porque a visão não é externa... Vejo-o diante de mim, e vê-lo-ei talvez eternamente como primeiro o vi. Primeiro, os olhos azuis de criança que não tem medo; depois, os malares já um pouco salientes, a cor um pouco pálida, e o estranho ar grego, que vinha de dentro e era uma calma, e não de fora, porque não era expressão nem feições. O cabelo, quase abundante, era louro, mas, se faltava luz, acastanhava-se. A estatura era média, tendendo para mais alta, mas curvada, sem ombros altos. O gesto era branco, o sorriso era como era, a voz era igual, lançada num tom de quem não procura senão dizer o que está dizendo - nem alta nem baixa, clara, livre de intenções, de hesitações, de timidezas. O olhar azul não sabia deixar de fitar. Se a nossa observação estranhava qualquer coisa, encontrava-a: a testa, sem ser alta, era poderosamente branca. Repito: era pela sua brancura, que parecia maior que a da cara pálida, que tinha majestade. As mãos um pouco delgadas, mas não muito; a palma era larga. A expressão da boca, a última coisa em que se reparava - como se falar fosse, para este homem, menos que existir - era a de um sorriso como o que se atribui em verso às coisas inanimadas belas, só porque nos agradam - flores, campos largos, águas com sol -, um sorriso de existir, e não de nos falar.
Meu mestre, meu mestre, perdido tão cedo! Revejo-o na sombra que sou em mim, na memória que conservo do que sou de morto...
Foi durante a nossa primeira conversa... Como foi, não sei, e ele disse: "Está aqui um rapaz Ricardo Reis que há-de gostar de conhecer: ele é muito diferente de si". E depois acrescentou, "tudo é diferente de nós, e por isso é que tudo existe".
Esta frase, dita como se fosse um axioma da terra, seduziu-me com um abalo, como o de todas as primeiras posses, que me entrou nos alicerces da alma. Mas, ao contrário da sedução material, o efeito em mim foi de receber de repente, em todas as minhas sensações, uma virgindade que não tinha tido.
(Álvaro de Campos, in "Notas para a Recordação do meu Mestre Caeiro", Estampa, 1997)
sábado, abril 07, 2007
M de Memória
Estranhas cenas se nos apresentam às vezes, quando menos esperamos. Vejamos um exemplo. Várias mulheres, de diferentes gerações, que se encontram juntas por motivos profissionais, gozam um momento de descanço. São bonitas e inteligentes e, se não são bem pagas, pelo menos têm um trabalho interessante. Sem cunhas, são mulheres de sucesso, self made. Por uma cumplicidade anterior que me escapa, retomam um tema que já terão abordado. As que falam recordam as suas infâncias de pobreza, na mesa e nas brincadeiras, e também cenas de violência doméstica. ("Sem abrigo", "violência doméstica" - etiquetas tão cómodas para realidades cuja compreensão se escapa entre os dedos, quando as tentamos abarcar.)
Noutro momento, um rosto sorridente que envelheceu em beleza e sabedoria diz: "A menina não faz ideia, vocês agora não fazem ideia, do que era ser-se mulher, antigamente. Uma mulher casada era quase propriedade do marido, não podia divorciar-se, nem sequer ir ao estrangeiro sem o consentimento do marido. Nem sabe as histórias que conheci, (etc.)".
Noutro momento, um rosto sorridente que envelheceu em beleza e sabedoria diz: "A menina não faz ideia, vocês agora não fazem ideia, do que era ser-se mulher, antigamente. Uma mulher casada era quase propriedade do marido, não podia divorciar-se, nem sequer ir ao estrangeiro sem o consentimento do marido. Nem sabe as histórias que conheci, (etc.)".
Uma possível lista de Grandes finalistas (não necessariamente a minha):
Jesus Cristo
Maria
Buda
Maomé
Moisés
Abraão
Lao Tsé
Confúcio
Nelson Mandela
Mahatma Gandhi
Karl Marx
Mao Zedong
Lénine
Sócrates
Platão
Aristóteles
Nietzsche
Voltaire
Leonardo da Vinci
Isaac Newton
Homero
Miguel Ângelo
Beethoven
Jorge Luis Borges
Alexandre Magno
Gengis Khan
Cristóvão Colombo
Fernão de Magalhães
Qual seria a claque mais ferrenha?
Jesus Cristo
Maria
Buda
Maomé
Moisés
Abraão
Lao Tsé
Confúcio
Nelson Mandela
Mahatma Gandhi
Karl Marx
Mao Zedong
Lénine
Sócrates
Platão
Aristóteles
Nietzsche
Voltaire
Leonardo da Vinci
Isaac Newton
Homero
Miguel Ângelo
Beethoven
Jorge Luis Borges
Alexandre Magno
Gengis Khan
Cristóvão Colombo
Fernão de Magalhães
Qual seria a claque mais ferrenha?
quarta-feira, abril 04, 2007
Sometimes with one I love
Sometimes with one I love, I fill myself with rage, for fear I effuse unreturn’d love;
But now I think there is no unreturn’d love—the pay is certain, one way or another;
(I loved a certain person ardently, and my love was not return’d;
Yet out of that, I have written these songs.)
(Walt Whitman)
But now I think there is no unreturn’d love—the pay is certain, one way or another;
(I loved a certain person ardently, and my love was not return’d;
Yet out of that, I have written these songs.)
(Walt Whitman)
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