15
Allons! whoever you are! come forth!
You must not stay sleeping and dallying there in the house, though you built it, or though it has been built for you.
Allons! out of the dark confinement!
It is useless to protest—I know all, and expose it.
Behold, through you as bad as the rest,
Through the laughter, dancing, dining, supping, of people,
Inside of dresses and ornaments, inside of those wash’d and trimm’d faces,
Behold a secret silent loathing and despair.
No husband, no wife, no friend, trusted to hear the confession;
Another self, a duplicate of every one, skulking and hiding it goes,
Formless and wordless through the streets of the cities, polite and bland in the parlors,
In the cars of rail-roads, in steamboats, in the public assembly,
Home to the houses of men and women, at the table, in the bed-room, everywhere,
Smartly attired, countenance smiling, form upright, death under the breast-bones, hell under the skull-bones,
Under the broadcloth and gloves, under the ribbons and artificial flowers,
Keeping fair with the customs, speaking not a syllable of itself,
Speaking of anything else, but never of itself.
(Walt Whitman)
quarta-feira, agosto 29, 2007
Dúvidas
1. "Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo..."
"Os seres humanos são intrinsecamente maus". Quem pode acreditar em tal coisa? O que é que isso diria de quem acredita? Dos seus familiares? Dos amigos? (Amigos?) Ou haveria alguns (auto-intitulados?) que seriam moralmente superiores?
2. Numa meritocracia, quem não tem talento tem de distinguir-se pelo esforço. Mas, e se todo o esforço do mundo não bastar?
"Os seres humanos são intrinsecamente maus". Quem pode acreditar em tal coisa? O que é que isso diria de quem acredita? Dos seus familiares? Dos amigos? (Amigos?) Ou haveria alguns (auto-intitulados?) que seriam moralmente superiores?
2. Numa meritocracia, quem não tem talento tem de distinguir-se pelo esforço. Mas, e se todo o esforço do mundo não bastar?
sábado, agosto 25, 2007
(Pen)Última crónica de Eduardo Prado Coelho
Comício de Verão
sexta-feira, 24 de Agosto de 2007
No seu habitual comício de Verão do PSD/Madeira, lá tivemos Alberto João Jardim a vociferar com a habitual virulência e desfaçatez. Conseguisse ele imaginar o que a esmagadora maioria dos portugueses do continente pensa destas vistosas performances e talvez não exibisse tamanha arrogância. Mas não consegue, e, por isso, fica ali, naquele estardalhaço ensolarado, a vacilar entre o ridículo e o patético.
Para o ilustre presidente do PSD da Madeira, o alvo, desta vez, foram as chamadas "causas fracturantes", que é o nome algo abusivo que foi atribuído aos temas que se ocupam de aspectos importantes da vida quotidiana das pessoas. Que um banco recuse um empréstimo a duas mulheres que vivem juntas, considerando que a situação de lésbicas não lhes permite qualquer solicitação nesse sentido, é algo que afecta o dia a dia de cada uma. E esses são problemas que não podem ser ignorados. Sobretudo com aquele inevitável argumento de que há assuntos muito mais importantes, como o desemprego ou as leis do trabalho (esta é a lengalenga habitual do PCP, que não tem particular simpatia por "temas fracturantes", embora, às vezes, lá alinhe).
Que disse, então, Alberto João Jardim? Numa alusão à lei sobre a despenalização do aborto, declarou, segundo os hábitos enraizados do conservadorismo nesta matéria, que, "quando se fazem leis contra a vida humana, é um precedente que não podemos consentir para depois fazerem outros direitos ou se ofenderem outros direitos das pessoas em nome do Estado absoluto". Não vamos discutir. Mas Jardim parece não ter entendido que a lei sobre a despenalização do aborto em determinadas circunstâncias é uma lei que aumenta a liberdade das pessoas, porque não obriga ninguém a fazer abortos, mas permite que quem quiser os faça e quem não quiser não faça. Falar em "Estado absoluto" é um contra-senso.
E falou sobre homossexuais. Para dizer que "querer o casamento de homossexuais e tudo isso que o Governo socialista prepara, essas não são causas, são deboche, são degradação, é pôr termo aos valores que nós, portugueses, a nossa alma nacional, temos desde o berço e que os nossos pais nos ensinaram". Cá temos o modelo perfeito do pensamento reaccionário: vai-se buscar um princípio suposto intocável, neste caso a "alma nacional" (Jardim ignora que "a alma é um vício", como genialmente escreveu Agustina), para interditar qualquer debate racional e ponderado sobre estas matérias, e não se aceitar a pluralidade de posições.
Do berço não me recordo bem, mas lembro-me que os meus pais, felizmente, nunca me ensinaram estas coisas, bem pelo contrário, embora sempre permitindo que eu viesse a pensar o que achasse mais certo. E nada me leva a suspeitar que não fossem portugueses, que não fizessem parte deste demagógico "nós, portugueses" a que Jardim recorre. Os pais da minha mãe moravam na Rua do Noronha, por detrás da Imprensa Nacional, e os do meu pai na Correia Telles a Campo de Ourique. Terão sido menos portugueses por não pensarem o que pensa Alberto João Jardim? Como dizia Pacheco Pereira, se Jardim berrasse menos e pensasse mais...
sexta-feira, 24 de Agosto de 2007
No seu habitual comício de Verão do PSD/Madeira, lá tivemos Alberto João Jardim a vociferar com a habitual virulência e desfaçatez. Conseguisse ele imaginar o que a esmagadora maioria dos portugueses do continente pensa destas vistosas performances e talvez não exibisse tamanha arrogância. Mas não consegue, e, por isso, fica ali, naquele estardalhaço ensolarado, a vacilar entre o ridículo e o patético.
Para o ilustre presidente do PSD da Madeira, o alvo, desta vez, foram as chamadas "causas fracturantes", que é o nome algo abusivo que foi atribuído aos temas que se ocupam de aspectos importantes da vida quotidiana das pessoas. Que um banco recuse um empréstimo a duas mulheres que vivem juntas, considerando que a situação de lésbicas não lhes permite qualquer solicitação nesse sentido, é algo que afecta o dia a dia de cada uma. E esses são problemas que não podem ser ignorados. Sobretudo com aquele inevitável argumento de que há assuntos muito mais importantes, como o desemprego ou as leis do trabalho (esta é a lengalenga habitual do PCP, que não tem particular simpatia por "temas fracturantes", embora, às vezes, lá alinhe).
Que disse, então, Alberto João Jardim? Numa alusão à lei sobre a despenalização do aborto, declarou, segundo os hábitos enraizados do conservadorismo nesta matéria, que, "quando se fazem leis contra a vida humana, é um precedente que não podemos consentir para depois fazerem outros direitos ou se ofenderem outros direitos das pessoas em nome do Estado absoluto". Não vamos discutir. Mas Jardim parece não ter entendido que a lei sobre a despenalização do aborto em determinadas circunstâncias é uma lei que aumenta a liberdade das pessoas, porque não obriga ninguém a fazer abortos, mas permite que quem quiser os faça e quem não quiser não faça. Falar em "Estado absoluto" é um contra-senso.
E falou sobre homossexuais. Para dizer que "querer o casamento de homossexuais e tudo isso que o Governo socialista prepara, essas não são causas, são deboche, são degradação, é pôr termo aos valores que nós, portugueses, a nossa alma nacional, temos desde o berço e que os nossos pais nos ensinaram". Cá temos o modelo perfeito do pensamento reaccionário: vai-se buscar um princípio suposto intocável, neste caso a "alma nacional" (Jardim ignora que "a alma é um vício", como genialmente escreveu Agustina), para interditar qualquer debate racional e ponderado sobre estas matérias, e não se aceitar a pluralidade de posições.
Do berço não me recordo bem, mas lembro-me que os meus pais, felizmente, nunca me ensinaram estas coisas, bem pelo contrário, embora sempre permitindo que eu viesse a pensar o que achasse mais certo. E nada me leva a suspeitar que não fossem portugueses, que não fizessem parte deste demagógico "nós, portugueses" a que Jardim recorre. Os pais da minha mãe moravam na Rua do Noronha, por detrás da Imprensa Nacional, e os do meu pai na Correia Telles a Campo de Ourique. Terão sido menos portugueses por não pensarem o que pensa Alberto João Jardim? Como dizia Pacheco Pereira, se Jardim berrasse menos e pensasse mais...
quinta-feira, agosto 23, 2007
Terminator?
Ou "T-Gurt"?! Valha-me Deus em que não creio!
E será que os senhores deputados-que-param-o-parlamento-para-ir-ver-futebóis passariam num exame elementar sobre o que aprovaram? Ou temos só, para nos defender de alergias surpresa, a FDA? E quem nos protege da diminuição da diversidade biológica entre as espécies que comemos?
(ligações via Wikipedia)
E será que os senhores deputados-que-param-o-parlamento-para-ir-ver-futebóis passariam num exame elementar sobre o que aprovaram? Ou temos só, para nos defender de alergias surpresa, a FDA? E quem nos protege da diminuição da diversidade biológica entre as espécies que comemos?
(ligações via Wikipedia)
propriedade privada
Um dos textos mais interessantes que li sobre o direito à propriedade privada foi escrito por Rousseau, no "Emílio". (E se alguma alma bondosa passasse por aqui e gentilmente me arranjasse uma transcrição? Parece-me que transcrever autores cuja influência dura séculos pode ser um exercício edificante...) Ele baseia esse direito no trabalho agrícola, embora se possa pensar que, antes do Neolítico, as pedras lascadas e pontas de lança (e frutos e raízes armazenados nas cavernas) já tenham tido donos. (continua)
terça-feira, agosto 21, 2007
leituras vermelhas de verão
Maria do Bote, que não pregara olho desde que o marido se levantara, receosa de chegar tarde aos teares fechou a porta aos filhos tamaninhos e saiu com Deolinda. «Se tivesse o despertador...» Voltou à ideia grata, a mesma de sempre, quando o marido saía com estrelas, ou o corpo moído lhe pedia repouso. «Mas desta vez não ficaria na rua, a rondar a montra do Costa Ourives...»
Engolido na taberna o trago de aguardente, os descarregadores vieram-se chegando para o cais. Traziam ainda os olhos saudosos da cama; das bocas, silenciosas, saíam-lhes baforadas de álcool; e as sacas do trabalho pendiam-lhes das mãos. Pareciam cansados. Mas, quando a sereia fez a última chamada, distenderam logo os músculos, agigantaram-se. Ai de quem não tivesse passo ligeiro sob a saca de cem quilos! Que o vaivém não parava - não podia parar - do celeiro para os barcos, dos barcos para o celeiro.
O Boa Sorte foi dos primeiros que meteu carga. Os homens de terra e mar iam fazendo prodígios de equilíbrio sobre a prancha e aliviavam as costas na amurada.
- Olá, Gineto...
Saudavam o filho do Manuel do Bote, que no fundo do barco se esfalfava na arrumação do trigo.
- Já não há uvas?...
Os homens de terra e mar chalaceavam e riam; ainda tinham risos e chalaças. Só o novo camarada do Boa Sorte perdera tudo, até as forças. Ele, que era um homem valente como os cow-boys, não mexia uma saca tombada. Arquejante e suado, mordia os beiços, mas não chorava.
- Aí, seu teso! - comentava o pai do Malesso.
- Custa mais qu'assubir às árvores, não?...
As falas dos homens é que o retinham ali, mais do que as vistas do pai. Duas vezes esboçara a fuga - e desistira. Fincava-se no orgulho de homem perante homens. E mordia os beiços. E a caverna do bote não tinha fundo...
- É com'a pança do patrão - comentou alguém.
Agora, as chalaças rareavam, e as forças também. Dos peitos oprimidos, já os bafos não tresandavam a álcool, porque o suor escorria do cais.
- Vamos co'isso! É andar...
Mas os homens de terra e mar eram homens como os mais.
- Leva tempo, o malvado...
E, como aquele, muitos outros esperavam, hiantes, a carga preciosa.
Soeiro Pereira Gomes, "Esteiros"
*
Não será a grande Literatura, este neo-realismo português; não temos um Steinbeck, mas, ainda assim, nas tiradas a puxar ao sentimento, não se pode dizer que é só ficção. Quase todos os analfabetos portugueses são gente a quem foi roubada a infância.
Engolido na taberna o trago de aguardente, os descarregadores vieram-se chegando para o cais. Traziam ainda os olhos saudosos da cama; das bocas, silenciosas, saíam-lhes baforadas de álcool; e as sacas do trabalho pendiam-lhes das mãos. Pareciam cansados. Mas, quando a sereia fez a última chamada, distenderam logo os músculos, agigantaram-se. Ai de quem não tivesse passo ligeiro sob a saca de cem quilos! Que o vaivém não parava - não podia parar - do celeiro para os barcos, dos barcos para o celeiro.
O Boa Sorte foi dos primeiros que meteu carga. Os homens de terra e mar iam fazendo prodígios de equilíbrio sobre a prancha e aliviavam as costas na amurada.
- Olá, Gineto...
Saudavam o filho do Manuel do Bote, que no fundo do barco se esfalfava na arrumação do trigo.
- Já não há uvas?...
Os homens de terra e mar chalaceavam e riam; ainda tinham risos e chalaças. Só o novo camarada do Boa Sorte perdera tudo, até as forças. Ele, que era um homem valente como os cow-boys, não mexia uma saca tombada. Arquejante e suado, mordia os beiços, mas não chorava.
- Aí, seu teso! - comentava o pai do Malesso.
- Custa mais qu'assubir às árvores, não?...
As falas dos homens é que o retinham ali, mais do que as vistas do pai. Duas vezes esboçara a fuga - e desistira. Fincava-se no orgulho de homem perante homens. E mordia os beiços. E a caverna do bote não tinha fundo...
- É com'a pança do patrão - comentou alguém.
Agora, as chalaças rareavam, e as forças também. Dos peitos oprimidos, já os bafos não tresandavam a álcool, porque o suor escorria do cais.
- Vamos co'isso! É andar...
Mas os homens de terra e mar eram homens como os mais.
- Leva tempo, o malvado...
E, como aquele, muitos outros esperavam, hiantes, a carga preciosa.
Soeiro Pereira Gomes, "Esteiros"
*
Não será a grande Literatura, este neo-realismo português; não temos um Steinbeck, mas, ainda assim, nas tiradas a puxar ao sentimento, não se pode dizer que é só ficção. Quase todos os analfabetos portugueses são gente a quem foi roubada a infância.
sábado, agosto 04, 2007
Song of the Open Road
14
The Soul travels;
The body does not travel as much as the soul;
The body has just as great a work as the soul, and parts away at last for the journeys of the soul.
All parts away for the progress of souls;
All religion, all solid things, arts, governments,—all that was or is apparent upon this globe or any globe, falls into niches and corners before the procession of Souls along the grand roads of the universe.
Of the progress of the souls of men and women along the grand roads of the universe, all other progress is the needed emblem and sustenance.
Forever alive, forever forward,
Stately, solemn, sad, withdrawn, baffled, mad, turbulent, feeble, dissatisfied,
Desperate, proud, fond, sick, accepted by men, rejected by men,
They go! they go! I know that they go, but I know not where they go;
But I know that they go toward the best—toward something great.
(Walt Whitman)
The Soul travels;
The body does not travel as much as the soul;
The body has just as great a work as the soul, and parts away at last for the journeys of the soul.
All parts away for the progress of souls;
All religion, all solid things, arts, governments,—all that was or is apparent upon this globe or any globe, falls into niches and corners before the procession of Souls along the grand roads of the universe.
Of the progress of the souls of men and women along the grand roads of the universe, all other progress is the needed emblem and sustenance.
Forever alive, forever forward,
Stately, solemn, sad, withdrawn, baffled, mad, turbulent, feeble, dissatisfied,
Desperate, proud, fond, sick, accepted by men, rejected by men,
They go! they go! I know that they go, but I know not where they go;
But I know that they go toward the best—toward something great.
(Walt Whitman)
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