sábado, outubro 15, 2005

A escrita, a liberdade e a vida

"Vivir para contarla" (de Gabriel García Márquez) é um título que muito aprecio. Para lá da óbvia causalidade que uma biografia implica, ele remete para o amadurecimento em que a boa escrita se apoia. A História dá-nos exemplos abundantes de seres humanos que compraram a sua liberdade (alguns, a imortalidade) através da escrita. Um homem senta-se, está consigo na sua solidão e, escrevendo, muda o mundo, porque agita as mentes. Mas para escrever e deixar marca não basta querer. Não bastam copiosos exercícios académicos. É preciso viver. Uma vida feita da sujeição aos agentes da natureza que provocam as rugas e as cãs, de sofrimentos vários, da paciência da observação dos acasos e do exercitar do livre-arbítrio possível, a cada dia que passa. Só depois o escritor pode transmitir o que tem de único, o seu testemunho insubstituível, a sua herança para o futuro. E, então, felizes os que o lêem.

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