cantando "Gracias a la Vida", de Violeta Parra.
Gracias a la Vida que me ha dado tanto
me dio dos luceros que cuando los abro
perfecto distingo lo negro del blanco
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
me ha dado el oido que en todo su ancho
graba noche y dia grillos y canarios
martillos, turbinas, ladridos, chubascos
y la voz tan tierna de mi bien amado.
Gracias a la Vida que me ha dado tanto
me ha dado el sonido y el abedecedario
con él las palabras que pienso y declaro
madre amigo hermano y luz alumbrando,
la ruta del alma del que estoy amando.
Gracias a la Vida que me ha dado tanto
me ha dado la marcha de mis pies cansados
con ellos anduve ciudades y charcos,
playas y desiertos montañas y llanos
y la casa tuya, tu calle y tu patio.
Gracias a la Vida que me ha dado tanto
me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano,
cuando miro el bueno tan lejos del malo,
cuando miro el fondo de tus ojos claros.
Gracias a la Vida que me ha dado tanto
me ha dado la risa y me ha dado el llanto,
así yo distingo dicha de quebranto
los dos materiales que forman mi canto
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos que es mi propio canto.
Gracias a la Vida
Gracias a la Vida
Gracias a la Vida
Gracias a la Vida.
segunda-feira, outubro 05, 2009
terça-feira, setembro 01, 2009
"Com a cabeça metida no travesseiro"
Com a notícia de uma mudança de ministério, Paris tinha mudado. Todos se sentiam alegres; gente passeava, e lampiões em todos os andares davam uma tal claridade que parecia estar-se em pleno dia. Os soldados regressavam lentamente aos quartéis, estafados, de ar triste. Saudavam-nos, gritando: «Viva a Infantaria!» Eles continuavam sem responder. Na guarda nacional, pelo contrário, os oficiais, rubros de entusiasmo, brandiam o sabre, vociferando: «Viva a reforma!» e esta frase fazia sempre rir os dois amantes. Frédéric dizia gracejos, estava muito alegre.
Pela rua Duphot, chegaram aos bulevares. Lanternas venezianas, penduradas nas casas, formavam guirlandas de luzes. Um formigueiro confuso agitava-se na rua; no meio desta sombra, a espaços, brilhavam alvuras de baionetas. Erguia-se um grande sussuro de vozes. A multidão era demasiadamente compacta, o regresso directo impossível; e iam a entrar na rua Caumartin quando, de súbito, rebentou atrás deles um ruído, semelhante ao estalar de uma imensa peça de seda a ser rasgada. Era a fuzilaria do bulevar de Capucines.
- Ah! Alguns burgueses a menos, - disse Frédéric tranquilamente, porque há momentos em que o homem menos cruel se acha tão desligado dos outros que veria perecer o género humano sem um batimento de coração.
A Marechala, aferrada ao braço dele, batia os dentes. Declarou-se incapaz de dar mais vinte passos. Então, por um requinte de ódio, para melhor ultrajar na sua alma a Senhora Arnoux, levou-a até à residência da rua Tronchet, ao apartamento preparado para a outra.
As flores não tinham murchado. A guipura estava em cima da cama. Tirou do armário as pequenas pantufas. Rosanette achou estas atenções muito delicadas.
Por volta da uma hora, foi acordada por rufos longínquos de tambor; e viu que ele estava a soluçar, com a cabeça metida no travesseiro.
- O que tens tu, amor querido?
- É o excesso de felicidade - disse Frédéric. - Havia já muito tempo que te desejava!
(Gustave Flaubert, "A Educação Sentimental", Relógio d'Água, tradução de João Costa)
Pela rua Duphot, chegaram aos bulevares. Lanternas venezianas, penduradas nas casas, formavam guirlandas de luzes. Um formigueiro confuso agitava-se na rua; no meio desta sombra, a espaços, brilhavam alvuras de baionetas. Erguia-se um grande sussuro de vozes. A multidão era demasiadamente compacta, o regresso directo impossível; e iam a entrar na rua Caumartin quando, de súbito, rebentou atrás deles um ruído, semelhante ao estalar de uma imensa peça de seda a ser rasgada. Era a fuzilaria do bulevar de Capucines.
- Ah! Alguns burgueses a menos, - disse Frédéric tranquilamente, porque há momentos em que o homem menos cruel se acha tão desligado dos outros que veria perecer o género humano sem um batimento de coração.
A Marechala, aferrada ao braço dele, batia os dentes. Declarou-se incapaz de dar mais vinte passos. Então, por um requinte de ódio, para melhor ultrajar na sua alma a Senhora Arnoux, levou-a até à residência da rua Tronchet, ao apartamento preparado para a outra.
As flores não tinham murchado. A guipura estava em cima da cama. Tirou do armário as pequenas pantufas. Rosanette achou estas atenções muito delicadas.
Por volta da uma hora, foi acordada por rufos longínquos de tambor; e viu que ele estava a soluçar, com a cabeça metida no travesseiro.
- O que tens tu, amor querido?
- É o excesso de felicidade - disse Frédéric. - Havia já muito tempo que te desejava!
(Gustave Flaubert, "A Educação Sentimental", Relógio d'Água, tradução de João Costa)
domingo, junho 21, 2009
Usura na cristandade
C'est à ce moment-là que se pose la grande question du prês à intérêt, nécessaire pour l'exportation des produits. En 1347 dejà, presque deux siècles avant la Réforme, l'évêque Adhémar Fabri avait rompu la règle religieuse selon laquelle le temps appartenant à Dieu, les hommes ne sauraient en tirer du profit. Il avait autorisé l'«usure», c'est-à-dire, le paiement d'un loyer pour de l'argent prêté, à condition que le taux en restant modeste.
Calvin est sollicité pour une semblable autorisation par les marchands protestants de la Nouvelle République. Il y réfléchit longuement. Il lui paraît légitime qu'un prêteur reçoive sa part de rétribuition pour de l'argent qui aura contribué à enrichir l'emprunteur, cette part devant rester raisonnable. En revanche, dit-il, il faut renoncer à «l'usure du pauvre». Mais qu'est-ce qu'une «part raisonnable»? Qu'est-ce qu'un «pauvre»? Prêteurs et prédicateurs ne cessent de se disputer sur cette question. Dès 1538, le taux légal est fixé à 5%. En 1557, il grimpe à 7%, en 1572 à 8,3%. En realité, le taux de 10% est courant, et sourtout à l'encontre des emprunteurs les plus pauvres.
(Joëlle Kuntz, L'histoire suisse dans un clin d'oeil)
Calvin est sollicité pour une semblable autorisation par les marchands protestants de la Nouvelle République. Il y réfléchit longuement. Il lui paraît légitime qu'un prêteur reçoive sa part de rétribuition pour de l'argent qui aura contribué à enrichir l'emprunteur, cette part devant rester raisonnable. En revanche, dit-il, il faut renoncer à «l'usure du pauvre». Mais qu'est-ce qu'une «part raisonnable»? Qu'est-ce qu'un «pauvre»? Prêteurs et prédicateurs ne cessent de se disputer sur cette question. Dès 1538, le taux légal est fixé à 5%. En 1557, il grimpe à 7%, en 1572 à 8,3%. En realité, le taux de 10% est courant, et sourtout à l'encontre des emprunteurs les plus pauvres.
(Joëlle Kuntz, L'histoire suisse dans un clin d'oeil)
sábado, maio 09, 2009
Quem manda? (2)
"[...] I know that as a consequence of my fund-raising I became more like the wealthy donors I met, in the very particular sense that I spent more and more of my time above the fray, outside the world of immediate hunger, disappointment, fear, irrationality, and frequent hardship of the other 99 percent of the population - that is, the people I'd entered public life to serve. And in one fashion or another, I suspect this is true for every senator: The longer you are a senator, the narrower the scope of your interactions. You may fight it, with town hall meetings and listening tours and stops by the old neighborhood. But your schedule dictates that you move in a different orbit from most of the people you represent."
(Barack Obama, The audacity of hope)
(Barack Obama, The audacity of hope)
Quem manda?
"Increasingly I found myself spending time with people of means - law firm partners and investment bankers, hedge fund managers and venture capitalists. As a rule, they were smart, interesting people, knowledgeable about public policy, liberal in their politics, expecting nothing more than a hearing of their opinions in exchange for their checks. But they reflected, almost uniformly, the perspectives of their class: the top 1 percent or so of the income scale that can afford to write a $2,000 check to a political candidate. They believed in the free market and in educational meritocracy; they found it hard to imagine that there might be any social ill that could not be cured by a high SAT score. They had no patience with protectionism, found unions troublesome, and were not particularly sympathetic to those whose lives were upended by the movements of global capital."
(Barack Obama, The audacity of hope)
(Barack Obama, The audacity of hope)
sábado, março 14, 2009
quarta-feira, fevereiro 18, 2009
Palme
domingo, fevereiro 15, 2009
A lagartixa, o lagarto e o crocodilo
A um canto, a lagartixa, o lagarto e o crocodilo palestravam em família. Cousa digna da atenção do filósofo é que a lagartixa via no crocodilo uma formidável lagartixa, e o crocodilo achava a lagartixa um crocodilo mimoso; ambos estavam de acordo em considerar o lagarto um ambicioso sem gênio (versão lagartixa) e um presumido sem graça (versão crocodilo).
— Quando lhe perguntaram pelos avós, observou o crocodilo, costuma responder que eles foram os mais belos crocodilos do mundo, o que pode provar com papiros antiquíssimos e autênticos...
Tendo nascido, concluiu a lagartixa, tendo nascido na mais humilde fenda de parede, como eu... Crocodilo de bobagem!
— Notai que ele fala muito do loto e do nenúfar, refere casos do hipopótamo, para enganar os outros, confunde Cleópatra com o Khediva, e as antigas dinastias com o governo inglês...
Tudo isso era dito sem que o lagarto fizesse caso. Ao contrário, parecia rir, e costeava a parede da arca, a ver se achava algum calor de sol.
(Machado de Assis, A semana)
— Quando lhe perguntaram pelos avós, observou o crocodilo, costuma responder que eles foram os mais belos crocodilos do mundo, o que pode provar com papiros antiquíssimos e autênticos...
Tendo nascido, concluiu a lagartixa, tendo nascido na mais humilde fenda de parede, como eu... Crocodilo de bobagem!
— Notai que ele fala muito do loto e do nenúfar, refere casos do hipopótamo, para enganar os outros, confunde Cleópatra com o Khediva, e as antigas dinastias com o governo inglês...
Tudo isso era dito sem que o lagarto fizesse caso. Ao contrário, parecia rir, e costeava a parede da arca, a ver se achava algum calor de sol.
(Machado de Assis, A semana)
quinta-feira, fevereiro 12, 2009
200 anos de razão
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
Um frango para dois comensais
Será o aumento do valor médio do rendimento per capita suficiente para caracterizar o progresso socioeconómico de uma sociedade? Poderia ser, se o dinheiro servisse só para comprar gravatas e conforto supérfluo. Mas serve também para aceder a cuidados de saúde: aos melhores ou aos mais básicos. O dinheiro não compra só mordomias num hospital privado. Compra também exames de diagnóstico caros ou tempos reduzidos em listas de espera.
Não é justo garantir ao banqueiro incompetente melhores cuidados de saúde do que ao diligente operário fabril. No entanto, esta injustiça é inevitável com a destruição do modelo social europeu.
Não é justo garantir ao banqueiro incompetente melhores cuidados de saúde do que ao diligente operário fabril. No entanto, esta injustiça é inevitável com a destruição do modelo social europeu.
quinta-feira, fevereiro 05, 2009
Sondagens: montante e jusante
Como caracterizar quem tem paciência para responder a sondagens e inquéritos? Carola? Desocupado? Devoto?
Um especialista nacional em sondagens nunca tinha pensado na distorção provocada nos resultados das sondagens pela escolha de amostras de indivíduos com telefone fixo. Fascinante. Aposto que quem paga a realização e a publicação de resultados de sondagens também nunca pensou no efeito de "self-fulfilling prophecy"... Aliás, o fenómeno familiar do favorecimento do contratante só pode ser pura coincidência.
Um especialista nacional em sondagens nunca tinha pensado na distorção provocada nos resultados das sondagens pela escolha de amostras de indivíduos com telefone fixo. Fascinante. Aposto que quem paga a realização e a publicação de resultados de sondagens também nunca pensou no efeito de "self-fulfilling prophecy"... Aliás, o fenómeno familiar do favorecimento do contratante só pode ser pura coincidência.
domingo, fevereiro 01, 2009
Procuradoras
Na televisão, uma grande reportagem sobre quatro procuradoras do Ministério Público. Mulheres poderosas do meu país. Mulheres inteligentes. Queria tanto ter orgulho delas... Queria, mas não posso. Tirando um "ter acabado com o terrorismo" das FP25, só referência a processos prescritos, mal conduzidos, adiados. No Reino Unido, demitem pessoas que demoram três anos a reponder a uma carta. Por cá, sem surpresa, não há ninguém responsável se se espera três anos pela resposta a uma carta. Que interesse tem que a papelada dos processos ocupe um andar ou quatro? Simplesmente não acredito que haja tanta sofisticação no crime nacional que não seja possível atacá-lo.
segunda-feira, janeiro 12, 2009
quinta-feira, janeiro 08, 2009
segunda-feira, janeiro 05, 2009
O pastor
Pastor, pastorinho,
onde vais sozinho?
Vou àquela serra
buscar uma ovelha.
Porque vais sozinho,
pastor, pastorinho?
Não tenho ninguém
que me queira bem.
Não tens um amigo?
Deixa-me ir contigo.
(Eugénio de Andrade)
onde vais sozinho?
Vou àquela serra
buscar uma ovelha.
Porque vais sozinho,
pastor, pastorinho?
Não tenho ninguém
que me queira bem.
Não tens um amigo?
Deixa-me ir contigo.
(Eugénio de Andrade)
Subscrever:
Mensagens (Atom)