sábado, abril 30, 2011


(Vincent van Gogh)

Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?

(José Régio)

terça-feira, abril 26, 2011



(Google doodle de 26/Abr/2011, celebrando o nascimento de John James Audubon)

Citação

«Nice people with common sense do not make interesting characters. They
only make good former spouses.»

(Isabel Allende, TED talk Tales of passion)

sábado, abril 23, 2011

(V)

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

(Alberto Caeiro, O Pastor Amoroso)

domingo, abril 17, 2011


(Giovanni Segantini, Mezzogiorno sulle Alpi, 1891)

Uma trip de Umberto Eco

É curioso. Vós suspeitais de que nós dois somos a mesma pessoa. Porém, vós recordais muitas coisas da vossa vida e eu pouquíssimas da minha. Pelo contrário, como prova o vosso diário, vós não sabeis nada de mim, enquanto eu me estou a aperceber de que recordo outras coisas, e não poucas, do que vos aconteceu e - nem por acaso - exactamente aquelas de que parece que vós não conseguis recordar-vos. Deverei dizer que, se posso recordar tantas coisas de vós, então eu sou vós?

Talvez não; somos duas pessoas diferentes, envolvidas por qualquer misteriosa razão numa espécie de vida comum, eu sou, no fundo, um eclesiástico, e sei de vós talvez aquilo que me haveis contados sob o segredo da confissão. Ou sou aquele que tomou o lugar do Dr. Froïde e, sem que vos recordeis disso, extraiu do mais profundo do vosso ventre aquilo que tentáveis manter sepultado?


(Umberto Eco, O Cemitério de Praga)

Esta droga é boa, e não se vende nas farmácias...

Como pôr o guizo no gato?

Jorge Miranda não se oporia a que votos em branco fossem representados por cadeiras vazias no Parlamento, como foi sugerido em tempos neste blog.

Questionado sobre se se revê nos partidos do actual espectro partidário, admitiu que não, mas explicou que como não é abstencionista tem votado muitas vezes em branco – pelo que concorda com a proposta do antigo ministro de José Sócrates e economista Campos e Cunha de deixar no Parlamento lugares vagos provenientes dos votos em branco. “Daria um sentido positivo ao voto em branco. Seria uma forma positiva de manifestação de desagrado em relação aos partidos existentes”, insistiu, definindo o actual sistema de partidos como vivendo um “estado comatoso, sem qualquer capacidade de renovação”.

Numa fábula muito popular de Esopo, os ratos em consílio achavam uma excelente ideia pôr um guizo no gato que os atormentava, para os avisar de quando ele estava a aproximar-se. Só não conseguiam entender-se sobre qual deles ia pôr o guizo no gato...

Aqui a questão é que partidos alguma vez defenderiam tal ideia e votariam a favor de uma tal lei no Parlamento...

Nas eleições legislativas de 2009, houve 99.161 votos em branco e 78.023 votos nulos. São mais do que os necessários para uma iniciativa popular, mas quem os organiza? Seria talvez mais fácil se os partidos que não elegeram deputados numas eleições tivessem financiamento na campanha eleitoral seguinte, proporcional aos votos que tivessem conseguido. Ou então, quem sabe, esses "movimentos apartidários" que há por aí pudessem fazer alguma coisa...

domingo, abril 10, 2011

De olhos postos na Islândia...

Para quando o referendo português sobre a renegociação da dívida? (Renegociar a dívida não é o que se aconselha a um particular quando ele se vê numa escalada de empréstimos?)

With great power comes great responsibility

É difícil imaginar um lugar em que as ideias para lá da espuma dos dias contam. Mas parece que existe... em França.

Confesso que já passei mais de cinco minutos da minha vida a ler textos de Bernard-Henri Lévy, e li Les Fleurs du Mal na penumbra da sua biografia de Baudelaire.

Ora, já Platão sonhou com reis-filósofos. E, tantas vezes, vemos resultados democráticos que fazem duvidar da bondade dos pressupostos da democracia...

Por tudo isto, e havendo posições de BHL das quais discordo totalmente, não posso deixar de sentir simpatia por se ter prontificado a ir quase à frente de batalha, deixar a cómoda neutralidade, e ter usado o poder da sua notoriedade para tentar influenciar a defesa de vidas civis e uma mudança de regime na Líbia.

Teorias de conspiração? Honni soit qui mal y pense.

Grande decepção:

Fernando Nobre.

sexta-feira, abril 01, 2011